Foi o vereador José Caetano de Oliveira que, segundo Mirian, diante da falência da cidade em 1894, teve a ideia de trazer o trem, que chegou à Itacuruçá 16 anos depois e levou mais quatro para chegar ao Centro, com festa e a presença do Presidente. Deo explica que, primeiro, o trem era movido a carvão, depois a diesel. Tinha o “Macaquinho”, de três vagões, com 1a e 2a classes mais um vagão de carga vindo de Santa Cruz; e os trens de carreira: um de seis a nove vagões, com 1a e 2a classes, e a “Litorina”, de um a dois vagões de 1a classe, que vinham direto da Central do Brasil.
O trem trouxe o turismo e também novos moradores. Muitos vieram pra cidade trabalhar na Rede Ferroviária, como os pais da Diva, de Cícero, de Deo, e de Silvio e Valdir, que contou aos filhos que o plano era o trem chegar a Conceição de Jacareí, mas não aconteceu. Ainda assim, o trem se tornou o coração da cidade: Cira e Sara, a caminho da escola, se escondiam do cobrador para não pagar passagem; Sérgio ia pra estação às sextas pra saber quem estava chegando pro fim de semana; Edgard brincava com o pai de contar os vagões de carga enquanto passavam…
No domingo, a praça fervia com as famílias, amigos e namorados esperando o último trem partir. Tinha até a “Turma do Seis e Vinte”, uma confraria de passageiros frequentes.
No meio dos anos 70, com a Rio-Santos recém-inaugurada e a MBR necessitando do uso dos trilhos, o trem de passageiros foi tirado de circulação. João Luiz acha que foi melhor assim, mas é uma das coisas de Mangaratiba que mais dão saudade em Vânia, Cícero, Cira e Manoel. “Quando eu falo, eu sinto o cheiro do trem, o barulho… era muito gostoso”, lembra Valdirene.
Transitar pelo município nunca foi fácil. Com uma estrada de terra muito ruim interligando os distritos, o jeito era ir a pé, a cavalo, carroça, bicicleta, barcos e canoas. Darcy lembra de Vitor Breves chegando de charrete para cortar o cabelo. Cida caminhava quatro quilômetros pra ir à escola e, no fim de semana, vinha com o pai de canoa, de Junqueira até o Centro, para trocar na quitanda a produção da família por alimentos que não produziam. A travessia era difícil, então muitas crianças foram morar longe dos pais para poder estudar, como a Angela e a Sonia.
Angela, Fernanda e Maria José lembram bem da dificuldade de chegar em casa, em Conceição de Jacareí: quatro horas passando mal em uma lancha, depois embarcar numa canoa no meio do mar até o cais e ainda ter que caminhar mais de uma hora a pé.
Na Serra do Piloto, a dificuldade também era grande: Luciana e Maria das Graças cansaram de subir e descer a pé para a Praia do Saco para não perderem prova na escola, porque o único ônibus, do Antonio Porteiro Portugal, tinha quebrado.
Quando o trem parou, os trilhos ainda permaneceram por anos, e Emilzinho pegava carona no trole do Nilsinho, um veículo adaptado, para ir pra Ribeira, Junqueira e Ibicuí.
Os ônibus sempre foram inconstantes, sem horários regulares para entrar ou sair da cidade. Vicente e Mirian, para poderem fazer faculdade no Rio, reuniam com colegas para fretar um ônibus.