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Georgette Gabriel Georges

Georgette Gabriel Georges

Mangaratiba - Centro

Nasci em Mangaratiba no ano de 1933 e sou filha de libaneses. A família tinha vindo para o Brasil no começo do século XX, morou primeiro em Barra do Piraí, depois se estabeleceu em Mendes. Meu pai veio em 1920 e começou a trabalhar de vendedor, também conhecido como caixeiro viajante. Numa viagem, conheceu a mulher que seria sua esposa, se apaixonou à primeira vista e já marcou a visita seguinte levando a mãe, para que conhecesse a futura nora. Numa visita à cidade de Mangaratiba, ficou encantado com a região por se parecer com sua terra natal no Líbano e, já com cinco filhos, mudou-se com a família para a cidade, comprando o imóvel que era a farmácia, colado à propriedade dos Cavalcanti, onde abriu um armarinho. Minha irmã Julieta e eu já nascemos na casa nova. Lembro que as ruas eram de barro e que, quando chovia, o córrego do Choro, na rua de trás, enchia e inundava levando a água até quase dentro dos imóveis. O calçamento só chegou em 1950, mas ainda de pedras, o asfalto veio mais de dez anos depois. A água de beber vinha da bica chamada 'Toca da Velha', onde ia buscar água uma vez por semana com a empregada. Frequentamos a escola de Dona Cordélia, e ficamos amigas de Genny. A mãe dela traduzia os jornais brasileiros para meu pai, que não sabia português. Ele era muito conservador em relação a modernidades, então demoramos para ter fogão ou geladeira. O fogão à lenha ficou até os anos 1960, com a serpentina esquentando a água do banho. A cidade não tinha luz elétrica até os anos 60, e mesmo quando chegou a luz era muito fraca, iluminava muito pouco. Estudamos só o primário, hoje fundamental, porque “casar era mais interessante”. Frequentamos a praia desde bebês, com minha mãe. A juventude da cidade se encontrava no coreto para dançar, ao som de uma vitrola, quando não tinha baile mensal no clube. O coreto também era lugar de namorar, sempre no jardim de cima, que ficava mais escuro e não dava pra ver. Além das atividades dos clubes, ainda tinha o cinema, com filmes e com os teatrinhos feitos por eles mesmos. Participamos dos blocos de carnaval, com fantasia e máscara e saía pelas ruas. Gostava de participar dos diversos concursos, como o que escolheu o nome do café produzido na cidade, ou o de descobrir quem era o mascarado, que acontecia na farmácia. Ainda adolescente, me tornei enfermeira assim que o hospital foi inaugurado na cidade, em 1948, sendo a funcionária nº 1. Trabalhava com os médicos e as freiras trazidas do Ceará para atender as pessoas. Depois de 9 anos de serviço me demiti para me casar. Morei em Mangaratiba ainda depois de casada, mas depois me mudei para o Rio de Janeiro, para a Tijuca, de onde só saí há poucos anos, quando fiquei viúva e sozinha. Há sete anos, voltei a morar aqui com minha irmã Julieta.

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Manoel Firmino

Manoel Firmino Fazenda Santa Justina Nasci na Fazenda Santa Justina em 1933. Meus pais eram pobres. Era uma vida difícil.

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Manoel Firmino

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Fazenda Santa Justina

Nasci na Fazenda Santa Justina em 1933. Meus pais eram pobres. Era uma vida difícil. Hoje posso falar, antigamente não podia falar, não. Lembro que a fazenda era uma maravilha, mas a vida era ruim, dura. Ninguém da minha família recebia salário. Nenhum dos empregados recebia. Comíamos a comida da fazenda e usávamos roupas e objetos que recebíamos. Eu era garotinho ainda e já tinha que trabalhar para o fazendeiro, Não recebia nada, eu só tinha o direito de estudar. A família Breves tinha um orfanato e criavam muitas crianças, então tinham vários outros garotos além de mim. Às vezes, a gente se juntava para jogar bola, mas mal começava e já era chamado para o trabalho. Na minha infância não tinha nada de bom. Nasci escravo, me formei escravo e existi escravo. Agora que melhorou um pouco. Conheci minha avó ainda escravizada. A fazenda foi o único lugar que ela conheceu. Hoje é considerado quilombo porque não saímos da terra onde meus antepassados viveram como escravizados. Nunca morei em outro lugar. Minha mãe era cozinheira da fazenda. Ela me levava para o trabalho e eu ficava no meio dos fazendeiros. Tinha muito serviço de roça, na plantação de milhos, na lida com bois. Depois entrou na fábrica de Bananada Tita e meu pai e começamos a trabalhar lá. Meu pai trabalhava fazendo doces. As crianças voltavam da escola, tiravam o uniforme e iam para a fábrica. Exigiam que as crianças fossem embalar doce às vezes até durante toda a noite. Cresci trabalhando na fábrica, o tempo inteiro sem ganhar nada. Casei em 1961 com Ernestina, aos 28 anos, e permanecemos na mesma casa na fazenda, onde tivemos e criamos nossos filhos. Lembro que Vitor Breves e o “pessoal de fora” eram muito bons. Ele ajudou várias pessoas, mas o pessoal de lá, não. Só queriam que a gente trabalhasse. A gente comprava um negócio e eles queriam saber com que dinheiro. Eles não tiravam as coisas que a gente comprava, mas questionavam com que dinheiro tínhamos comprado já que não recebíamos nada. Só fui receber salário nos anos 1960. Na fazenda, além da produção de bananada, se plantava muita coisa, como arroz, café, laranja e, especialmente, banana. Era época do Seu Armando Peixoto. Tinha também uma olaria de tijolos e a usina de luz onde, inclusive, perdi um irmão eletrocutado. Deram uma mixaria para a viúva e disseram que iam dar indenização para as crianças, mas ela disse que nunca viu esse dinheiro. Era a fazenda mais produtiva de Mangaratiba. Tinha gado leiteiro e vendia muita manteiga e leite para o centro de Mangaratiba. Eu saía de carrocinha e tabuleiro oferecendo pelas ruas. Não me lembro quando foi que a olaria da Santa Justina parou de funcionar, só que foi há muito tempo. A Fazenda Santa Izabel também tinha a olaria do Seu Armando Peixoto, que produzia as telhas que ficaram famosas na cidade. Com o fim da fábrica, em 1968, passei a ser administrador da fazenda e foi o que fiz até depois de me aposentar. Uma grande decepção foi quando o último proprietário da fazenda, antes da venda, me chamou para conversar. A gente se sentou no sofá e eu estava com a perna quebrada de um acidente de trabalho. Ele disse: “Foi Deus que mandou o senhor quebrar a perna, porque eu queria tirar você do trabalho e não tinha como. Não dá mais dinheiro para ele porque não trabalha mais comigo”. Eu já estava aposentado, mas continuava trabalhando. Hoje vivo apenas da aposentadoria. O que eu gosto de Mangaratiba é a tranquilidade. Não é como era antes, mas ainda é tranquilo. Sinto falta do trem e gosto muito do hospital, onde sempre sou muito bem atendido.

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Luciana Luísa de Souza Fernandes

Luciana Luísa de Souza Fernandes

SERRA DO PILOTO

Eu nasci no hospital de Mangaratiba em 1978 e depois subi a Serra do Piloto. Minha família materna era de São João Marcos, da Benguela e do Rubião. Vieram de São João Marcos para a Serra com a inundação, em 1941. Eram descendentes de portugueses e espanhóis, mas meus avós nasceram em São João Marcos. Sempre morei em frente à estrada, que era cheia de uma flor chamada beijo. A água sempre corria pelas canaletas laterais. Por volta de 1980, a estrada de pedras começou a ser coberta por saibro que era trazido em caminhões. Estudei até a 4ª série na escola da Serra, e depois, durante 12 anos, desci pra estudar na vila, no João Paulo. Volta e meia subia e descia a pé, porque às vezes o ônibus quebrava, ou atolava, ou caia barreira. Nas semanas de provas, por exemplo, eu não podia faltar. Uma vez, quebrou o ônibus e já eram dez da noite e ainda não tinha chegado em casa, porque era muito longe. Foram anos de muito esforço. Uma das coisas que mais recordo da infância são as festas de São João Marcos. Meu pai era um grande incentivador e adorava o leilão de gado. Eu o acompanhava para apanhar o gado doado nas fazendas. A festa acontecia no dia 27 de setembro, dia de Nossa Senhora Aparecida de João Marcos. Acontecia missa na igreja católica, procissão com andores que carregavam a Santa, o canto do hino de São João Marcos pelo coral, tinha barraquinhas tradicionais, leilão de gado e, no galpão ao lado, tinha apresentações e um show de trio forrozeiro, e o povo amanhecia dançando. Minha avó ajudava na cozinha e doava recursos para igreja com a venda de comidas. Como nunca acontecia nada na Serra, essa festa era muito esperada não só pelos moradores, mas por gente de toda a região. A imagem de São João Marcos foi primeiro para o Rubião, mas os fazendeiros derrubaram a igreja construída para ele depois de um conflito, e aí foi levado para a Serra. Lembro também do presépio que Antonio Padre fazia na igreja. Eu era criancinha, de cinco ou seis anos, e ficava contemplando cada detalhe das imagens. Depois do Antonio Padre, a festa ainda se manteve, mas um padre modificou a data e acabou atrapalhando a tradição, porque confundiu as pessoas que participavam da produção e na visitação. A Fazenda da Lapa também marcou minha infância, pois era do Doutor Carneiro, que atendia as crianças das famílias locais quando estava lá. Na região não tinha atendimento médico. Antes da energia elétrica, era outra realidade. Ninguém tinha luz, TV, nem nada. A luz chegou entre 1984 e 1985. Nos anos 1990, resgatamos a Folia de Reis e eu participava muito dos ensaios, que eram no Rubião, em uma casa onde a associação se reunia. Faziam várias apresentações em São João Marcos, no Rio de Janeiro, na vila e em outros lugares. Ganharam prêmios, o que foi muito importante para a comunidade. Hoje, trabalho na escolinha de São João Marcos, onde estudei e me formei. Está reformada, tem várias salas e tem aumentado o número de alunos, mas continua com a mesma essência. Gosto muito de ser professora na Serra e ensino para os meus alunos a importância da preservação da história e do patrimônio locais. Sobre a “modernização” da estrada, recordo que quando o saibro era novo a estrada ficava ótima, mas depois de algum tempo começava a ficar falhado e muito ruim. Em 2012, o governo decidiu “modernizar” a Estrada Imperial, retirando as muretas de proteção, as pontes, as canaletas de escoamento de água e as pedras centenárias. A estrada seria ampliada. Em contato com Miriam Bondim, passamos a acionar as autoridades do patrimônio para que isso não acontecesse e conseguimos que a estrada fosse apenas asfaltada. Mas, no primeiro dia da obra, os funcionários chegaram destruindo tudo, como no plano original. Liguei para Mirian e, junto com a família, nos colocamos na frente das máquinas para evitar a destruição, num protesto que durou muitas horas. Desci às pressas até o Centro para avisar as autoridades do patrimônio sobre o que estava acontecendo, engenheiro responsável acabou vindo do Rio de Janeiro e finalmente corrigiu a orientação aos operários. Alguns dias depois era a inauguração do Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos. A responsável pelo patrimônio, ao chegar e ver a obra ficou indignada, pois não tinha autorização para acontecer. A obra ficou parada por meses, com a estrada toda problemática, até que foi regularizada. Foi definido que, em três trechos da estrada, seriam feitos recortes no asfalto e restauração do calçamento original para que as pessoas pudessem apreciar a história da estrada. Mas, no meio da obra, os casos de corrupção pipocaram e o dinheiro sumiu, deixando as pedras expostas em trechos ainda não restaurados, cobertos de camadas antigas de terra e saibro.

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Manoel Firmino

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Vânia Maria Alves Guerra dos Santos

Vânia Maria Alves Guerra dos Santos

MARAMBAIA

Nasci em 1958 na Ilha da Marambaia, numa família de descendentes dos escravizados que restaram da senzala do porto de cura e engorda, que os distribuía para o depósito de pretos do Sahy e para as fazendas do Sul Fluminense. Meus avós, Domingos e Marcelina (Dona Pichela), eram muito estimados na comunidade, lideranças naturais que eu gostava de acompanhar ouvindo as conversas atrás da porta. Da infância, tenho mais lembranças boas do que ruins. Lembro da pescaria de tainha na Praia do Sino, que começava em abril com a pescaria do paraty, e era quando as crianças mais aprontavam, porque ficavam mais soltas. Saiam da Praia da Pescaria Velha, de madrugada, para a Praia do Sino e, às vezes, dormiam lá sem abrigo, sem coberta e sem mãe, só um monte de crianças jogadas na praia. Os pais ficavam esperando as mantas para cercarem os peixes. Era no rancho da família Firmo. Havia um entrosamento entre as pessoas, um ajudava o outro durante a pesca e, quando terminava, o dinheiro da pescaria era usado para comprar o material para as casas das famílias. Ainda que bebessem muito, trocavam as pernas colocando sapê nas casas, era incrível. Também lembro das casas muito simples, de estuque e sapê, que tinham muitas goteiras e se desfaziam com o vento. Meu padrasto e o irmão dele, Balbino (meu padrinho, que era gago), se comunicavam pelo eco do vale, um olhando “a banda do sino” e outro “a banda da porta do furando” para identificar a viração. Se meu padrinho demorasse a responder era porque tinha ficado nervoso e o vento tinha levado tudo. Então sua mãe acolhia Balbino e família em casa até reconstruírem a casa deles. Na ilha, também tinha a Escola de Pesca Darcy Vargas, construída na década de 1940 pelo Governo Federal para receber jovens carentes de todo o Brasil e formá-los não só em pesca, mas até em engenharia. Poucos moradores da Marambaia, apesar de serem carentes, conseguiram acesso à escola (lembro do Coronel, do Seu Naná e mais uns quatro). Apesar das mulheres não poderem estudar, elas tinham trabalho, como lavar e passar roupa e limpar peixe na fábrica de sardinha. Isso ajudava a comunidade. Quando eu nasci, entretanto, a escola já estava começando seu processo de decadência. Estudei apenas até a quarta série, porque era o que tinha na escola local. Depois disso fui trabalhar como empregada doméstica. Aos 11 anos, pedi para a patroa dinheiro para comprar uma roupa e ouvi: “Você quer dinheiro? Você tem que dar graças a Deus e tem que continuar trabalhando para pagar a comida que você come e o teto que te abriga”. E continuei trabalhando assim por mais alguns anos. Eu digo que todo remanescente de quilombo faz esse trajeto: sai de ser escravo em uma fazenda para continuar a lida de escravidão na cidade. Nos anos 1970, a Marinha assumiu a ilha e acabou com a pescaria, tanto da escola como da comunidade. Passou a implicar e até humilhar os moradores, querendo que eles deixassem a ilha. Eu sempre fui brigona, batia de frente com os militares para defender a comunidade, e às vezes ouvia conselhos dos outros moradores para que me cuidasse porque algum militar tinha dito que “ia quebrar as minhas pernas”. Com as restrições, a comunidade mudou muito. Não deixavam construir casas. Na minha, era um casal e 15 filhos numa casa de quatro cômodos sem banheiro. Foi quando eu percebi que éramos justos, já que não desmatamos e não destruímos nada. Ao contrário, sempre fizemos questão de preservar as matas e os bichos. Casei, mas fiquei viúva muito cedo, com uma filha de um ano para criar. Em 1983, pedi então para reabrir a igreja da comunidade, que estava fechada há seis anos, e os militares não deixaram. Na discussão, um deles chegou a me chutar e eu o chutei de volta. Por fim, o capelão mandou que me dessem a chave, pois não fazia sentido a igreja ficar fechada e virei a catequista da comunidade. A primeira coisa que fiz foi bater o sino. Quando deu três horas, a comunidade estava toda na igreja para a missa. Eu tinha 24 anos e foi quando tive a oportunidade de começar a mobilizar a comunidade, nessa época predominantemente católicos e umbandistas. Passei a representá-los. Em outubro de 1997, soube que ocorreria um congresso sobre educação na vila com o tema “Escola que temos e a escola que queremos”. Foi quando apareci para falar como mãe na escola da comunidade da Marambaia. Contei que a escola na ilha ia só até a 4ª série e, a partir dos 10 ou 11 anos, tinham que atravessar para o continente na lancha das 5 horas da manhã. Como a aula acabava na hora do almoço, ficavam sem comida e sem destino, perambulando sozinhos por Itacuruçá até a lancha das 7 horas da noite, mas as crianças de locais como Pescaria Velha, só conseguiam chegar em casa por volta das 9 horas da noite, para sair no outro dia às 5 horas da manhã novamente. A escola que nós queremos é a que sabemos onde estão nossos filhos, eu disse no palco para todos. Foi um choque, porque tinham muitas crianças nessa situação. A secretária, então, exigiu que a partir do dia seguinte as crianças permanecessem na escola até o horário da lancha, com atividades e comida, até que pudessem implantar uma escola na Marambaia. Em março do ano seguinte, a escola já estava funcionando e eu pude vestir novamente um uniforme e terminar os estudos, na mesma sala que a minha filha. A comunidade então recebeu um pedido de reintegração de posse por parte da Marinha, nos taxando como “invasores”. Queriam fazer da ilha um resort para oficiais. Questionei muito, alegando que o “Aurélio” diz que quilombolas são os que formam o Quilombo, que é uma comunidade de negros fugidos. E perguntando: “O senhor, comandante, pode me dizer como chama uma comunidade de negros roubados? Por que já que eu, meu avô, meu bisavô, fomos roubados - eles partiram, e nós continuamos aqui e daqui não saímos – então, como é que nós invadimos alguma coisa, se nascemos aqui?”. Foi quando comecei a fazer contato com o Movimento Quilombola, o MNU, o Tortura Nunca Mais, e o Justiça Global e outros movimentos que ajudaram com o processo. Depois de anos proibidos pela Marinha, em janeiro de 2003, nós finalmente conseguimos montar a Associação da Marambaia. Em outubro do mesmo ano fundamos a Associação Estadual para que os quilombos do entorno se comunicassem. A Marinha chegou a ganhar instâncias, mas ganhamos no STJ em 2011 e fomos reconhecidos como comunidade. No mesmo ano, o programa Luz Para Todos finalmente pôde instalar energia elétrica. E em 2014, passamos a ter a titulação como Quilombo da Marambaia. Infelizmente, muito da nossa cultura se perdeu. Não fazemos mais cestos, tem a casa de farinha, mas não tem mais sequer terra para plantar mandioca porque um pouco antes da titulação a Marinha emitiu um TAC (Termo De Acordo De Conduta), e recolheu as roças, as bananas e tudo que tínhamos. Meus netos não sabem mais como plantar um aipim ou uma cana, e meus bisnetos não vão saber. Por causa dessa TAC, passaram a exigir da comunidade laudo ambiental para construções, mas nem o IBAMA nem qualquer outro órgão sabe como isso tem que ser feito. Mesmo com as dificuldades, fazemos o que podemos para que a cultura se perpetue. Não conseguimos retomar o cateretê, mas conseguimos o jongo, que já ensino para a minha neta de 3 anos. Em 20 de novembro, nas ruínas da senzala da fazenda de engorda de escravos que nós preservamos, é realizada a principal festa do Quilombo, muito bonita, com uma boa feijoada, jongo e capoeira. Sinto saudade do povo de Mangaratiba, que era uma bagunça, todo mundo ria, todo mundo brincava, mas agora encheu de veranistas e os lugares que eles frequentavam não existem mais, como a Praia de Junqueira. Também sinto falta do trem, que queria que voltasse, nem que fosse só até Itacuruçá. E, para finalizar, declamo um trecho de poesia autoral: “É por isso que é preciso gritar. Me deixe continuar a existir. Não permitam que eu caia. A quem interessar, Atenciosamente. Marambaia”

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Manoel Firmino

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Valdir dos Santos Soares

VALDIR DOS SANTOS SOARES

ITACURUÇA

Quando falo de Mangaratiba me lembro da infância. Meu pai e avô foram ferroviários. O outro avô era hidroviário e vinha do Nordeste para Mangaratiba navegando. Lembro do trem, andava muito de trem. Era uma viagem relaxante, você esquecia da vida, via as pessoas nas praias, que acenavam para quem estava nos trens. Cheguei a ir de lancha até Angra dos Reis, que ia parando entrando nas praias, apanhando as pessoas. Parava próximo das praias e as canoas levavam as pessoas até ela. Eram lanchas de madeira bem cômodas, com nomes como Peruana, Parati, Guarapiranga. Tinha as lanchas de socorro, menores, como a Mangaratiba e a Ianque. Entravam nas praias para pegar as pessoas que iam ao Centro vender suas produções excedentes, como peixes, bananas e galinhas. Eram caixas e gaiolas de produtos no porão. E tinham as barcas “catraias”, que auxiliavam com a carga, que era coberta com uma lona e rebocada por outras embarcações, vinda de Paraty. As produções menores, das praias no caminho vinham no porão da lancha comum ou em canoas individuais. Nasci no Rio do Choro, atrás da pousada da Vovó Corina, do Cícero. Tinha um riacho que hoje está canalizado, mas sempre que chove muito faço meu trajeto pelo calçadão. Estudei na cidade até o primeiro ano, depois minha família se mudou para Coroa Grande. Meu pai era chefe de estação ferroviária. Trabalhou na estação de Coroa Grande e da Baixada Fluminense. Quando acabou o trem em Mangaratiba ele já estava aposentado e lamentou muito. Saía do Centro às 4h e ainda via a lua espelhada no mar e depois o sol. Voltei a morar em Mangaratiba em 1980, comecei a namorar a minha esposa, casei em 1982, morei um tempo em Itaguaí e depois voltei. Saí antes da Rio-Santos e voltei depois. Senti que mudou o contingente, a quantidade de gente trabalhando na MBR, e em outros locais da cidade as obras da estrada continuavam acontecendo, levando a estrada até Paraty e Santos. Ainda tinha muitos funcionários que moravam aqui. Vários fizeram família aqui, outros levaram gente daqui para fora. Montei um negócio de assistência técnica em 1982 e como chaveiro em 1984. Fiz manutenção inclusive para a MBR. Antes, meu ponto era em uma barraca pública ao lado da igreja, depois passou para a casa em que eu morava de aluguel e, depois, para a Praia do Saco, onde era a rodoviária antiga. Só em 1990 cheguei ao ponto de hoje, na frente da praia. Minha família é antiga na cidade, a Família Batalha. Essa família começou no Caju, no Rio de Janeiro, numa companhia de pesca vinda da Ilha da Madeira, e se espalhou pelo estado. A outra parte vem de um avô que era neto de escravizados. Eles tiveram propriedades na cidade, mas depois perderam. Tenho um parentesco com o tradutor da família real portuguesa na vinda para o Rio, em 1808, que ganhou terras na região. A outra parte da família veio de Paraty, a parte da avó, filha de portugueses com indígenas – caiçaras. O avô da minha avó era entalhador, da Família Santos Silva. Lembro de uma tia-avó centenária, quando ele era criança, que era chamada de Vovó Leopoldina. Hoje a família está desfrutando Mangaratiba. Adoro a cidade, conheço todo mundo. As pessoas se espalharam, mas ainda tem muita gente conhecida. As pessoas que estão chegando na cidade, algumas estão se integrando, outras não.

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José Miguel Olímpio Simões Filho

JOSÉ MIGUEL OLÍMPIO SIMÕES FILHO

Mangaratiba - centro

Nascido em Mangaratiba em 13 de agosto de 1957. Fiz o primário na escola Coronel Moreira da Silva. Minha infância foi ótima, soltando pipa, rodando pião, jogando bola de gude, praia, pescaria. Ia de bicicleta até Junqueira para pescar na costeira. O Centro quase não tinha carro, era maravilhoso para se morar, todo mundo se conhecia, dormia de portas abertas. Ainda é bom, mas não fica nem perto do paraíso que era. Na época, tinha asfalto do Rio de Janeiro até Itaguaí. Depois era estrada de chão, muito buraco e atoleiro. A cada viagem era uma calota do carro que se perdia. Eram até 2h30 de Mangaratiba a Itaguaí e, se atolasse, tinha que ficar esperando uma máquina para ajudar a sair. A gente também usava o trem, viajava de litorina, que tinha carro restaurante, comia sanduíche e Coca-Cola. Era incrível para as crianças. Eu gostava do carnaval, participava, mas não fui fundador. Os fundadores foram o Djalma Braga e o Roberto, marido da Dona Marli. Eu gostava muito da bateria. Passava todo carnaval na cidade até os 18 anos. Fui morar no Rio e voltei em 1988. Herdei a loja do meu pai junto com minha irmã, Andreia. Meu pai gostava tanto da cidade que quis que os filhos nascessem aqui. A rodovia Rio-Santos foi boa para mim. Quando fiz 18 anos, meu pai me deu um carro e tudo ficou mais rápido. Gosto de morar na cidade porque é um lugar razoavelmente tranquilo, mas hoje não tem mais nada. Tinha o cinema do Seu Porfírio onde, aos domingos, eu ia ver filmes do Mazzaropi. Era uma época maravilhosa.

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Daila Puxarem

DAILA PUXAREM

ITACURUÇA

Eu nasci em 1967 e fui criada em Itacuruçá, na Fazenda Santana, propriedade que foi cortada pela linha do trem. Minha casa fica na antiga “Estrada da Fazenda”, hoje “Estrada João Menino”. Era conhecida como “avenida”. Quando se entrava na avenida tinha uma vila: as casas se agrupavam em trincas, com um espaço para a trinca seguinte, e assim por diante. Essas casas eram propriedades da fazenda, então não se podia mexer nelas, mesmo que estivessem caindo, porque o dono, Seu Décio, não deixava. Ainda assim, eu e as outras crianças entrávamos escondidas para comer jabuticaba. Sou descendente de escravizados que permaneceram na Marambaia. Minha avó foi servir na casa grande, se envolveu com um padre jesuíta, o Padre Olavo, e formou-se a família. Foram para Angra dos Reis, onde minha mãe conheceu meu pai, um descendente de indígenas com italianos. Se estabeleceram então na fazenda do Seu Décio. Depois, meu pai conseguiu comprar um terreno “fora”, ou seja, abaixo da linha do trem. Na época, a água chegava até a porta da igreja. Lembro que frequentava a pracinha com a minha mãe, saía escondida junto com uma prima para pular da ponte no rio e para tomar banho no poço da cachoeira, e vínhamos voltando pela água até onde hoje é a Escola Cecília Ferraz, e do outro lado era uma areia branquinha. Esse cenário mudou quando a Marina se instalou. A fazenda tinha uma usina que gerava luz para os moradores das casas que pertenciam à fazenda. Era uma luz muito fraca, como se fosse a chama de uma vela. Antes da construção da Marina, existia na Ilha de Marambaia a Escola de Pesca Darcy Vargas. Todos os meses, vinham caminhando pela estrada cerca de 40 bois, que desembarcavam em Itacuruçá e, na hora da maré baixa, uma barca tipo 'chata' chapava no mangue para que os bois embarcassem e, na maré cheia, fossem levados para a escola, onde era abatido um boi por dia para alimentar os internos. A brincadeira dos garotos de Itacuruçá era acompanhar esse embarque dos bois, correr atrás dos que se desgarravam. No governo Itamar Franco, os terrenos que tinham sido adquiridos para a construção das residências para a Companhia Siderúrgica Nacional 2 (CSN 2), cuja indústria seria em Itaguaí, começaram a ser vendidos. Como foi na mesma época da construção da rodovia Rio-Santos, o comprador aproveitou as pedras que estavam saindo da estrada, da construção dos túneis, e colocou na orla para fazer o costado da Marina. Depois dragou todo o lodo para a construção dos prédios. Até então existiam apenas cinco famílias morando no local. Algumas famílias pelo mangue, entre elas a do sr. João do Mato, que fazia um pão doce que eu amava comer. Ele andava pelas ruas levando-os em um cesto enorme. O mangue era um viveiro de espécies e passava, inclusive, um grupo de botos sempre no mesmo horário à tarde. Na praia, ficava o entreposto de pesca, que acabou não sobrevivendo com a dragagem do mangue e a mudança do ecossistema local. A mesma coisa aconteceu em relação à fazenda. As casas eram cedidas para as famílias, 60 no total. Nos anos 1970, com a falência da fazenda, as famílias entraram com pedido na justiça para usucapião dos terrenos. Mas o processo demorou e, como havia muitas dívidas da fazenda com a prefeitura, vários desistiram e começaram a vender parte de suas terras. Meu pai era barbeiro, cortava os cabelos de todos os moradores de Itacuruçá e das ilhas, que vinham trazer os pescados. Minha mãe era do lar e dava aula de crochê para as meninas. Ela não deixava eu participar do carnaval, mas eu conseguia ouvir todo o baile de carnaval que acontecia no Iate Clube, porque minha casa ficava em frente à sede antiga do clube. Quando dava seis horas da manhã eu ia na janela do quarto e ficava olhando os foliões tomarem banho – porque ainda não existia a ponte do meio. Na terça-feira, último dia de carnaval, como os foliões não queriam deixar o salão, a banda vinha trazendo os foliões até a praia, onde tomavam banho de mar fantasiados e muitos dormiam ali mesmo. Tinha a festa de Sant'Anna, com Raimundo em um palanque fazendo leilão – geralmente de gado, mas não só. As ruas em frente à igreja de Sant'Anna eram tomadas de barraquinhas. Depois de uma certa hora entrava o forró, com o povo dançando até a Banda 27 de Fevereiro parar. Eu assistia tudo da varanda de casa. As festas de Itacuruçá eram juninas e julinas: Santo Antônio, São Pedro e depois Sant'Anna. As pessoas de Muriqui iam andando pela linha do trem, muitas vezes para apanhar, uma vez que tinha uma rixa entre Muriqui e Itacuruçá. A queima de fogos da Festa de Sant'Anna era feita em frente ao píer de madeira. Lembro também das canoas largas que transportavam bananas. Criança, eu esperava que as canoas passassem e pulava no mar para recolher as bananas que ficavam boiando na água. Como a estufa ficava embaixo da minha casa, o Seu Zé sempre me dava uma penca bem grande. Recordo também que chegou a ir de excursão para Conceição de Jacareí, assim que inaugurou a rodovia Rio-Santos. Como a comunidade tinha ficado isolada até então, tudo ali era ainda “nativo”. Sinto saudades de como eram as festas, com pau de sebo e corridas de canoas. Minha mãe não deixava que eu competisse, mas eu sempre pegava uma canoa escondida e atravessava para a Ilha de Itacuruçá. Aprendi a remar assim: em canoa pequena, em pé, com um remo só. Sobre o crescimento desordenado de Mangaratiba como um todo e, especificamente de Itacuruçá, e como o carnaval acabou padecendo pelo excesso de gente que se acomoda nas quitinetes que foram construídas desordenadamente pela cidade, digo que, apesar da responsabilidade da prefeitura, os próprios moradores também são responsáveis pela desordem instalada na cidade. No início dos anos 1990 a fazenda faliu, a prefeitura perdoou a dívida e passou a tomar conta dos assuntos da propriedade, em especial a questão fundiária, e começou o processo de regulamentação das terras dos moradores antigos da fazenda. A terra em que nasci tinha um bom quintal, praticamente uma chácara. Quando meus pais morreram fiquei sozinha no terreno com meus filhos e marido. Sabendo da situação da fazenda, dei entrada na Justiça para usucapião. Um dia, funcionários da prefeitura abriram meu portão e entraram sem perguntar nada e começaram a medir tudo. “Posso ajudar?”, questionei. A resposta foi: “Aqui consta que você mora sozinha nesse terreno, e dá pra dividir para mais famílias”. “Negativo”, retruquei, “Vamos conversar. Aqui moro sozinha sim, mas a minha irmã mais velha está com quase 70 anos e ela nasceu aqui, então nós vamos para Justiça. Ponham-se daqui pra fora!” Alguns meses depois, fui chamada na prefeitura. “É essa daí, ó”, disse seu Mário Moreira, funcionário da Prefeitura, que me conhece desde que nasci. “O que foi, seu Mário?”, eu quis saber. “É, com você não tem jeito não, né?”, e eu respondi: “É, não tem jeito mesmo, não”. Ele me deu um sorriso e recebi logo em seguida meu título de propriedade. Cumpri a vontade do meu pai que, em vida, tinha dito quais partes do terreno ficariam para cada um dos filhos e dividiu o terreno com seus irmãos. A questão é que outros moradores que ficaram com terrenos grandes também foram vendendo para pessoas de fora, que foram construindo desordenadamente ao longo da estrada velha, para baixo e para cima. Várias dessas construções são quitinetes, muitas feitas pelos próprios moradores. As pessoas foram chegando com a melhoria da estrada. Houve uma explosão ainda maior com o Arco Metropolitano. Foram comprando os terrenos “da linha do trem para cima”, onde ainda tinha espaço. Boa parte são veranistas, outros vêm da Região Metropolitana do Rio de Janeiro em busca de oportunidades na cidade. A ocupação desordenada se deu especialmente após a instalação da Rio-Santos. Itacuruçá e Muriqui, especialmente, por serem ainda muito perto da Baixada, são as que mais foram afetadas. Passou a acontecer muitas ocupações por invasão também. Muitas áreas da cidade, hoje com ocupações desordenadas, passaram a ser invadidas a partir do início dos anos 2000. A Vila Benedita, até 2003, não tinha a densidade que tem hoje, até porque tinha um lixão na área. Foi apenas depois de 2003/2004 que começou o loteamento. Era uma área que a prefeitura recebeu como compensação por um loteador e parcelaram em terrenos pequenos e começaram a distribuir. Ali, tinha só um morador antigo, da época da estrada de rodagem, o Sr. Jonas. Antes do lixão, a área era o sítio do pai do Kakau.

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Manoel Firmino

Manoel Firmino Fazenda Santa Justina Nasci na Fazenda Santa Justina em 1933. Meus pais eram pobres. Era uma vida difícil.

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Ricardo Marques Vieira

RICARDO MARQUES VIEIRA

ITACURUÇA

Minha família chegou em Itacuruçá em 1964. Antes, alugávamos uma casa ao lado do Xadrez, no centro, desde 1950. Nasci no Rio de Janeiro em 1948, mas com dois anos passei a frequentar a cidade. Chegava em 2 de janeiro e ia embora só depois da quarta-feira de cinzas, além das férias de julho, Semana Santa e feriado de Finados. Quando eu era pequeno, Itacuruçá só existia do campo de futebol para “lá”. Na década de 1960, que começou o bairro chamado de Brasilinha e a fazenda começou a lotear. Depois veio a Marina. Era um veranista recorrente, com dois anos, minha irmã com quatro e meu irmão com seis anos. Meu pai, militar da Marinha, chegou a ficar seis meses lotado em Mangaratiba, e meu irmão estudou na escola com Kakau, então fizemos muitas amizades no bairro. Não tinha luz, as ruas não tinham nada e eram de barro, só na década de 1960 começou o calçamento. Ainda era Estado da Guanabara, fora do Rio de Janeiro, então eles tinham uma sucursal da polícia no local, que era o Queiróz: um policial que ia para a estação de trem e controlava quem entrava e saía. Ele conhecia todo mundo, então se você tentasse desembarcar e o morador não estivesse em casa ou não conhecesse um morador, Queiróz não deixava o passageiro desembarcar e mandava seguir no trem para o centro. Lembro de ser tudo muito pequeno, uma grande família. No trem, tinha o vendedor que vendia os jornais que vinham do Rio. O morador que comprava depois ia na casa dos que não tinham podido comprar para emprestar o jornal lido. Andava-se com lampião para todos os lados, a luz demorou a ser instalada e vinha do Centro de Mangaratiba. No verão, quando a cidade estava cheia, o filamento ficava em brasa, mal acendia. Para escutar um rádio, ainda artigo de luxo, era preciso um transformador para fazer os 25w virarem 110w. Então os moradores iam para as casas uns dos outros para ouvir as notícias ou a novela, até porque a maior parte do bairro era muito pobre. A água sempre foi muito boa, vinda direto das cachoeiras da região e ainda hoje. Em Itacuruçá haviam dois clubes: o Iate e o 26 de Julho. O Iate Clube de Itacuruçá surgiu em 1948 e tinha a área de turistas e a de moradores, segregada pelo próprio pessoal do clube. Na época, por causa das ilhas, Itacuruçá reunia um pessoal com muito poder aquisitivo, como é hoje em Angra dos Reis, mas, na época, Angra tinha acesso muito difícil e a Ilha Grande tinha o presídio, então não se podia fazer nada lá. Para chegar, apenas de trem ou de carro, e uma vez no local as famílias ficavam durante toda a temporada de verão. O pessoal que tinha casa de veraneio nas ilhas era ainda mais segregador e não aceitava a integração com moradores – pretos, então, de jeito nenhum, nem como garçom, no máximo como barqueiro. Os bailes eram elegantes, com homens de terno e mulheres de vestidos refinados. Aí começou o primeiro bloco de rua, o Bloco do Carvão, no início dos anos 1960: meia dúzia de pessoas batendo lata completamente pintadas de carvão e paravam em frente ao restaurante do Genoval e diziam: “Queremos um engradado de cerveja gelada. Ou você nos dá um engradado lá fora ou nós entramos aí pra beber”. Genoval, com o bar cheio, não tinha outra escolha a não ser servir as pessoas na rua. Aí a turma continuava para o Arrastão e fazia a mesma coisa, sempre seguindo um circuito. A diversão caiu nos ouvidos de uns coroas com poder aquisitivo maior, que passaram a financiar o chope. Aí passaram a sair da casa do Seu Mariano, um senhor que dava um caldo verde para o “esquenta” às 11 da manhã, e daí as pessoas saíam acompanhando um carro de som e um carro de chope, onde podia beber o quanto quisessem, até a estação do trem. Mas até então todas as pessoas se conheciam, então se no meio do percurso, por exemplo, se eu tivesse vontade de ir ao banheiro, batia na porta de um morador que, me conhecendo, deixava entrar. O circuito era saindo da casa do Seu Mariano, da Brasilinha, pegando a principal, indo até a estação do trem e voltando carregados, porque geralmente quem chegava até a estação já estava tão ruim que não conseguiam voltar sozinhos. Mas aí chegou em um ponto em que a cidade parou: era tanta gente, tanto carro, tanta bagunça, que ninguém entrava ou saía. Começaram a acontecer vandalismo, agressões, pessoas armadas, e os moradores locais passaram a ter medo de sair na rua. Os hotéis, restaurantes e pousadas começaram a se sentir prejudicados, porque recebiam uma quantidade limitada de hóspedes que, com suas famílias, também acabavam se sentindo inseguros de sair na rua. A massa eram pessoas que alugavam casas e quitinetes que acomodavam muito mais pessoas do que tinham capacidade real. Então em 2017 ou 2018, os moradores se uniram e foram à prefeitura pedir que se proibisse o carnaval de rua em Itacuruçá. Me sinto triste pelo rumo que a coisa tomou, alguns falam em reagir, mas acho que não tem mais jeito, não tem como voltar. Já no Iate Clube, do qual eu era sócio por ser veranista, tinham os bailes durante todos os dias do carnaval até o último, que terminava com o banho de fantasia no mar. E tinham os blocos do Axixá, da Brasilinha... Nas rixas de bairrismo, eu não gostava de brigas, e sim de namorar, mas tinha muitos amigos brigões. E o pessoal do continente brigava com o pessoal das ilhas e brigava com o pessoal de Muriqui. Nesta época, como do centro de Mangaratiba adiante as pessoas ficavam isoladas, então as bananas produzidas até em Paraty chegavam de barco para serem comercializadas em Itacuruçá. O desembarque era de terça a domingo, nunca às segundas, que era o dia de embarque dos presos ao presídio da Ilha Grande, que só depois passou para o centro. Os donos dos bananais, dos caminhões e dos mercados eram os portugueses broncos, e eles enchiam os caminhos Chevrolet Brasil com dúzias de cachos enormes. As canoas que traziam as cargas e as pessoas eram enormes, carregando 45 pessoas. Conheci um senhor que morava na Ilha Grande, ainda nessa época, e ele contou que ele e os pais iam a Itacuruçá em barco a vela para ir ao mercado porque o distrito tinha muitos mercados, uns quatro ou cinco, para atender as ilhas. O dono do mercado ia a São Paulo, enchia o caminhão de arroz, feijão e suprimentos e vendia para os pescadores anotando no caderninho, porque os pescadores vinham de toda a região para vender seus peixes em Itacuruçá e fazer dinheiro para comprar o que não conseguiam produzir. O Iate Clube de Itacuruçá chegou a ser o segundo mais importante em classificação da América Latina, pela quantidade de embarcações. Quando o trem chegou, em 1910, praticamente 15 anos antes de chegar ao centro de Mangaratiba, alavancou a região, que passou a reunir toda a população da Costa Verde e das ilhas para comprar e vender seus produtos. Mesmo depois da inauguração da estação do centro, Itacuruçá continuou centralizando a comercialização de produtos, contando até com um armazém para estoque. O distrito passou a ter inclusive fábricas de sardinha e de bananas. Lembro que em janeiro de 1966 caiu um temporal em Mangaratiba desses devastadores, como os recentes de Petrópolis. Começou a chover muito e eu estava no Iate, então resolvi dormir por lá. Quando acordei de manhã, abri a janela e vi a cidade alagada. Choveu muito mesmo. No caminho de casa percebi o estrago. No local onde passava o Rio Brasilinha não tinha mais rio, a lama tinha juntado tudo. A água desceu forte pela Serra Grande, levando tudo o que tinha pela frente. Até hoje não tem gente morando lá. O rio veio com uma força tão grande que levou a ponte de Muriqui. Quando entrei pelo portão do meu quintal tinha dormente de trem, trazido pela tromba d’água. Sem a ponte, a cidade ficou meses com a passagem dos trens comprometida, já que o que vinha do Rio era obrigado a parar antes da ponte, os passageiros desembarcavam, atravessavam uma ponte provisória, e continuavam até o centro de Mangaratiba em outro trem que ficou preso ali. Muita gente ficou ilhada em Muriqui e em outros pontos da região, já que teve muitas quedas de barreiras, e os caminhos que já eram precários simplesmente sumiram. Não existiam casas perto das margens do rio que passa hoje na Alameda do Canal; era cercado de pedras grandes, que simplesmente desapareceram na tromba d’água, provavelmente arrastadas para o mar. A Mazomba também acabou. Sobre a relação com as ilhas, recordo que sempre foi muito boa. Todos se conheciam e se respeitavam, coisa que só mudou depois do “progresso” trazido pela rodovia Rio-Santos. Lembro que na juventude tive um veleiro snipe. Se eu parava, sem vento, no meio da baía, logo se aproximava algum pescador que mudava o rumo só para oferecer ajuda: “quer que eu te reboque?”. Lembro que uma vez foi, em companhia de um amigo, visitar outro que morava em Sepetiba, apenas com uma garrafa d’água, sem levar um tostão no bolso. Ao chegar lá na Praia Dona Luiza, descobrimos que o amigo não estava e decidiram voltar. Assim que começamos o retorno, o leme do barco quebrou. Voltamos então para a Praia Dona Luiza, onde vimos um pescador de origem japonesa na areia, consertando uma rede de pesca. Cumprimentamos o pescador e perguntei se ele conhecia algum carpinteiro próximo que pudesse consertar o leme. “Eu conserto”, disse ele, e nos levou até a sua casa, onde fez o conserto, enquanto sua esposa servia a mesa, oferecendo lanche a nós dois. Leme pronto, perguntei quanto tinha custado o serviço. “Não é nada, não. Quando eu quebrar em Itacuruçá você me ajuda”, respondeu o pescador.

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Manoel Firmino

Manoel Firmino Fazenda Santa Justina Nasci na Fazenda Santa Justina em 1933. Meus pais eram pobres. Era uma vida difícil.

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Maria das Graças Martins

MARIA DAS GRAÇAS MARTINS

SERRA DO PILOTO

Nasci em 1971 na Serra do Piloto. Sempre morei aqui e subia e descia todos os dias para estudar. Demorei a frequentar a escola porque quem morava nos sítios distantes precisava de companhia para ir pra escola. Tive que esperar meu irmão mais novo crescer para irmos juntos. Entrei na 1ª série só com 11 anos. A escola só tinha até a 4ª série. Quem podia, estudava só até aí e voltava para casa. A escola era uma única sala, enorme, com um professor que passava a semana ali e cumpria todas as funções da escola, e ensinava todas as crianças, com as idades misturadas. Tinha vontade de continuar os estudos, então eu e uma amiga dissemos para os nossos pais que os pais uma da outra tinham deixado que elas descessem para a vila para estudar. E foi assim que conquistamos esse direito. Fomos estudar no Colégio Estadual João Paulo II, onde havia aulas a partir da 5ª série, em 1987. Lembro que havia três horários de ônibus, sem passe ou transporte escolar. A gente não podia sentar, porque senão tinha que pagar a passagem. Volta e meia eu subia e descia a pé porque às vezes o ônibus quebrava, ou atolava, ou caia barreira. Nas semanas de provas, por exemplo, não podia faltar. Tínhamos apenas rádio à pilha e ouvíamos 'A Voz do Brasil'. E todos contavam histórias de assombração. A mais contada, até hoje, é de lobisomem. A Fazenda da Lapa marcou minha infância. Era do Doutor Carneiro, que atendia as crianças das famílias locais, pois na região não tinha atendimento médico. Lá também acontecia a missa anual de Nossa Senhora de Fátima, todo mês de maio. Minha avó dizia que próximo ao altar, em uma portinha, estavam presas a alma dos escravos e as crianças precisavam ficar caladas para não acordá-las, senão eles estariam ferrados. Então, as crianças ficavam na capela em silêncio total. Minha família inteira, desde os meus bisavós, sempre estiveram envolvidos com a Folia de Reis. A tradição veio ainda da cidade de São João Marcos. Quando chegava o final do ano, os membros, não só da minha família, como também vizinhos e interessados de outros lugares que já tinham participado dos ensaios ao longo do ano, se reuniam. Os trajes eram produzidos pela minha mãe, tia e membros da família. Eles andavam descalços, não sei se por tradição ou por falta de dinheiro, com uma camisa vermelha e umas boinas douradas, bem chamativas. Na noite de Natal, todos se reuniam na igreja. À meia-noite, era celebrado o nascimento de Jesus. A tradição é que 12 pessoas, representando os 12 apóstolos, seguem na frente, mas são acompanhados de quantas pessoas quiserem participar, tocando instrumentos e cantando, celebrando a vida de Jesus. As pessoas que representavam os três reis vinham de coroa entoando a cantoria. Eram meus tios, Albertino e Miguel, e meu pai, Geraldo. Meu avô levava o estandarte e os demais participantes seguiam atrás. Enquanto o grupo fazia a parte de pregação, tinha a presença do palhaço, que no contexto da folia, tira a atenção da religiosidade e traz o público para a diversão, para dança e outros atrativos que não só a questão religiosa. Então saiam visitando as casas, levando essa mensagem, até 6 de janeiro, quando se fazia o fechamento do encerramento na casa do mestre, convidando todos aqueles que foram visitados e colaboraram para a Folia. O roteiro geralmente era visitar as casas próximas à igreja, depois iam até as proximidades de São João Marcos, Macundu, Rio da Prata. Iam até Mangaratiba, em casas onde eram convidados; depois Muriqui. Próximo à igreja e em São João Marcos, a Folia batia de casa em casa, e quem estivesse disposto recebia; fora dali eram visitadas casas específicas, de admiradores da Folia ou de indicados por esses. Eles passavam dias fora de casa. Meu pai e tios, às vezes, ficavam até depois do ano novo sem voltar para casa. E tudo era feito a pé. Como as pessoas eram da roça, que cuidavam dos sítios, então não tinha problema de faltar ao serviço para se dedicar ao que eles achavam maior: a religiosidade. Além da época de Natal, as apresentações aconteciam também em épocas festivas como no aniversário do padroeiro, cantando e louvando o santo, contando sua vida em versos e rimas, assim como na vida de Jesus, que é cantada em quatro toadas. A luz chegou na década de 1980, a chegada da TV foi uma grande mudança e depois a chegada do asfalto, em 2012. A região passou a ter um fluxo de chegadas muito grande. Até então, todo mundo conhecia todo mundo, mesmo quem era esporádico, as pessoas conheciam como se fosse família. Atualmente, a maior parte das pessoas da Serra do Piloto são veranistas. Os moradores são os agricultores familiares, ou caseiros. Tornei-me educadora e já fui professora e diretora. Hoje, trabalho no Centro de Mangaratiba, na Secretaria de Educação.

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Manoel Firmino Fazenda Santa Justina Nasci na Fazenda Santa Justina em 1933. Meus pais eram pobres. Era uma vida difícil.

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Geraldo Bertilo

GERALDO BERTILO

ITACURUÇA

Nasci em 1956. Meu avô pernambucano era da Marinha e, numa visita à região, conheceu minha avó, em Porto das Caixas. Foram morar em Pernambuco, mas ela queria muito voltar ao Rio de Janeiro, então ele conseguiu uma transferência para Itacuruçá. Eles vieram já com cinco filhos (entre eles, meu pai), montaram um hotel, onde a família se estabeleceu e viveu por alguns anos. Mais tarde, meu pai participou da comercialização do loteamento de parte da Fazenda Santana, que ficava na região de Muriqui e conseguiu arrendar um lote. Meu pai então conheceu minha mãe, nascida em 1930, e criada no centro de Mangaratiba pela Maria Mendonça – uma senhora solteira, chamada de “mulher do padre” porque era beata de igreja, e que criou onze crianças numa casa onde hoje é a funerária, no Centro. Passei então a ter vínculos nos dois distritos, e muitas vezes ainda criança ia andando pela linha do trem até Itacuruçá só para tomar um refrigerante, depois voltava para casa feliz da vida. Não existia a rodovia Rio-Santos, apenas a estrada velha. A ligação entre Itacuruçá e Itaguaí era feita por meio de uma ponte que alternava entre a passagem de trens e de carros. Era uma ponte muito estreita, em sistema pare e siga, porque passava apenas um sentido por vez. A estrada de ligação entre Itacuruçá e Muriqui era muito ruim, uma serrinha, com muitos acidentes. Minha primeira recordação de carnaval foi ainda de Mangaratiba: eu era muito pequeno, com quatro ou cinco anos, e a moda daquele ano era sair com fantasia de morcego, uma máscara de papelão com uma língua comprida, que eu tinha muito medo. Depois me encantei com o Bloco das Piranhas, que acontecia na rua hoje chamada com o nome do meu avô, Eduardo Bertilo. As mulheres se vestiam de homem e utilizavam uma fronha na cabeça, com furos apenas para os olhos, para que ninguém as reconhecesse, e os homens vestidos de mulher. Eu ia vestido acompanhar a banda do Chiquinho e o teatro. O bloco sofreu algumas alterações ao longo dos anos, se tornando quase como uma escola de samba, mas se manteve firme até a pandemia, quando parou, mas deve voltar. Eu tinha uma tia que morava em Paraty. Ia até lá quando só era possível chegar pelo mar. Uma viagem de oito horas, vendo botos e tubarões, e enfrentando o mar como estivesse. Os embarques oficiais para Paraty saiam de Itacuruçá, só alguns anos mais tarde passaram a sair do centro. É quando começa a Companhia Sul Fluminense, com a barca Patrício, que começa a fazer viagens para Conceição de Jacareí, Angra dos Reis e Paraty. Em Conceição, era ainda mais difícil, já que nem píer eles tinham. O desembarque era feito com uma canoa, que colava no barco maior para que os passageiros pudessem embarcar e os levava para a praia. Esse sistema só parou com a inauguração da Rio-Santos e o píer só foi construído vários anos depois. Sempre foi muito forte a tradição de comemorar o dia de São Pedro com queima de fogos. Saía de Muriqui para Itacuruçá só para acompanhar a queima, que era feita na beira da praia, perto da cooperativa. E tinha também a procissão aquática. A imagem era levada em um barco e quem quisesse acompanhar poderia embarcar em algum dos barcos de pescadores ou num barco da Marinha. A procissão continua até hoje, já em sua 88ª edição, com a mesma banda há décadas, mas com barcos menos enfeitados do que antes. Eu saía sempre no barco da Marinha. A procissão, de alguma forma, foi inspiração para que, em 1996, eu criasse o Carnamar com a ajuda de amigos na organização, empreendimentos locais que ofereceram prêmios, saveiros e rebocadores para levar os participantes e jogar água. Na primeira edição, contou com o ator Humberto Martins, que é nascido, criado e ainda possui família em Muriqui (seu pai é um dos primeiros “piranhas”). A ideia inicial era que os barcos saíssem da Praia Grande, na Ilha de Itacuruçá, que tem o mar calminho, e fossem até Muriqui. Era um percurso rápido para que as pessoas pudessem fazer sem pressa e curtir, especialmente a parte da concentração, onde as pessoas ficam circulando com seus barcos, ouvindo a banda e admirando as fantasias. Quando chega em Muriqui, a comissão escolhe quem ganhou como “melhor barco” e, depois, cada um vai fazer seu passeio para onde quiser. Com o sucesso da primeira edição, a prefeitura quis ajudar o projeto e designou o secretário de cultura da cidade para fazer parte da organização. O secretário quis então levar o percurso até o centro de Mangaratiba, o que causou divergências no grupo e fez com que eu deixasse a organização, discordante. O novo percurso deveria passar embaixo da ponte da Guaíba, mas isso já foi um problema por causa da altura de muitos barcos – saveiros, por exemplo, já não conseguiam passar. Além disso, pela distância, vários barcos pararam pelo caminho porque ficaram sem combustível, então muita gente acabou desistindo. No ano seguinte, já com novo secretário e lembrando do fiasco do ano anterior, me chamaram de volta. Fizeram contato com a Rádio Costa Verde que passou a transmitir ao vivo o evento. Os barcos sintonizavam todos na mesma rádio e conseguiam saber o que estava acontecendo. Aí o Carnamar se tornou um sucesso, com mais de trezentas embarcações enfeitadas participando, com pessoas em helicópteros acompanhando e tudo. Aos poucos, a prefeitura colocou barcos para levar a banda, com bom equipamento de som, para que as pessoas pudessem ouvir bem mais longe. Não sou mais membro da organização oficial do evento, mas participo todos os anos. Também fui diretor de harmonia da Mocidade Independente de Padre Miguel e sonho em fazer um Carnamar fora de época trazendo as escolas de samba, suas baterias, integrantes e fantasias para desfilar no mar de Mangaratiba. Este ano, fizemos o carnaval para as crianças, com um sax tocando marchinhas e as famílias acompanhando. Particularmente, não gosto do Carnafunk, desvirtua o sentido original da festa. Há alguns anos criei o Shopping Carnamar em Muriqui, com mais de vinte lojas.

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Manoel Firmino Fazenda Santa Justina Nasci na Fazenda Santa Justina em 1933. Meus pais eram pobres. Era uma vida difícil.

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