VALDIRENE CONCEIÇÃO DE SOUZA

Praia Grande

Nasci em 1972 e lembro muito da praia na minha infância. Tinha bastante casas já, mas minha família conta tantas histórias que consigo "ver" essa Praia Grande de três casas de cima pra baixo que falam. Meu pai vinha de trem e a gente ficava brincando na estação esperando por ele, que trazia doces. Ele era severo e éramos umas molecas. Recordo da Praia Grande sendo calçada nos anos 1980, sem iluminação pública. Tinha luz nas casas mas na rua, não. A única casa que tinha telefone era a nossa. Os veranistas não tinham telefone, então todos usavam o da família. Meu pai, Luiz Antonio, era a pessoa que todos procuravam para resolver tudo referente a Praia Grande: “Procura o Luiz Antonio”. Diferentemente das minhas tias e da minha mãe, estudei no colégio Maria das Graças, em Muriqui, e me formei professora lá. Eu ia de ônibus e voltava de trem, às 17h horas. Quando eu falo eu sinto o cheiro do trem, o barulho, era muito gostoso. Depois do comércio do meu pai, teve o Recanto e tinha também as barraquinhas, as birosquinhas que vendiam do feijão ao leite. As primeiras barraquinhas de praia foram nos anos 80. Depois saíram da areia e viraram “as birosquinhas”. Aí a prefeitura padronizou e formalizou tudo nos anos 90. Nosso quiosque foi construído em 1997. Na época da construção da Rio-Santos melhorou o acesso, mas muita gente comprou terrenos e construiu casas. Antes da rodovia, o clube que tinha na Praia Grande era bem grande, tinha piscina natural, salão de jogos e até cachoeira. A construção da estrada cortou o clube ao meio, desapropriando uma parte. Ainda tem a cachoeira, mas não é a mesma coisa de antes. Isso há 60 anos. Outra questão é o transporte. São vários problemas: chegar no ponto, que é uma ladeira, tem uma escadaria e ainda faltam ônibus. Em uma época teve uma linha de kombis que chegou a entrar no bairro, mas as ruas são pequenas e no verão fica muito difícil de trafegar porque as pessoas estacionam errado e bloqueiam as ruas. Nas décadas de 70 e 80 a praia ficava cheia de barracas de acampamento e as ruas cheias de carros. Com a proibição de camping, reduziu a frequência, mas com a inauguração do Arco Metropolitano parece que triplicou a quantidade de gente que vem pra cá. O governo não dá conta de fiscalizar as churrasqueiras, o estacionamento, e todas as ocupações irregulares. Já houve tentativa de controlar a entrada e saída, mas não há efetivo suficiente. No ano de 2021, o policiamento voltou, mas ficou um bom tempo sem. Já teve cancela, em parceria com o DPO, há 20 ou 30 anos atrás, mas não continuou. A escola foi melhorada com a municipalização. O prédio sempre ficou abaixo do nível do mar, então quando chovia, às vezes inundava e perdemos muitos documentos assim. Em 1998, a escola foi ampliada. Entrei para escola em 1996 como inspetora. Nesse ano teve uma enchente em perdemos mais documentos. Com a reforma e a ampliação, o número de alunos aumentou. Minha memória afetiva é a do meu pai, o clube, as festas, a associação, tudo em Praia Grande girava em função dele. Sou muito grata a tudo o que ele fez e se o bairro é assim hoje é graças a ele. Tento fazer o mesmo. O que posso, faço com meus alunos.

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