ADEMAR CARNEIRO MONTEIRO

MANGARATIBA

Nasci em 1944. Sou paraibano de Guarabira e vim para Mangaratiba em 1970 em busca de uma vida melhor na época da construção da Rio-Santos pela Mendes Jr. Não tinha quase nada no local e foi muito difícil, porque chovia demais. Às vezes a gente ficava dez dias sem trabalhar por causa da chuva. Caminhões atolavam e ficavam o dia todo para conseguir desatolar e os funcionários seguiam a pé. O trecho entre Santa Cruz e Muriqui foi feito pela empreiteira Rabelo e foi o caos. Ônibus e caminhões muitas vezes precisavam ser puxados por tratores. Eu trabalhei no trecho entre a ponte de Muriqui e a chegada em Conceição de Jacareí. Em relação à construção da estrada, algumas pessoas reagiam muito bem e outras muito mal, uma vez que a empresa teve que desapropriar e indenizar muitas famílias que tinham suas casas na rota da estrada, e aqueles terrenos às vezes era tudo o que eles tinham. O alojamento era muito difícil, com briga todo dia e toda noite. A alimentação era muito ruim. Os peões se revoltavam com a qualidade da comida e quebravam as coisas quase todos os dias. Logo percebi que não dava pra ficar ali. A Rio-Santos trouxe um pique de progresso, mas trouxe problemas em paralelo, como as invasões que não eram bem invasões, já que foram convenientes para o momento. Pessoas tiravam proveito disso. Saí do acampamento e fui morar no Bela Vista, onde estou até hoje. Quando cheguei, tinham poucas casas e eu conhecia todo mundo. A rua era de chão, foi calçada bem depois. Um pouco além da minha casa não tinha mais rua, era uma trilha. Não tinha luz. Para ter energia em casa tive que colocar, por conta, mais de 300 metros de fio. A água é de nascente até hoje, vinda de uma rede de abastecimento da CEDAE que foi construída abaixo do nível da rua, então às vezes chove pouco e falta água da mina. Fiquei morando na cidade e passei a trabalhar no terminal da Petrobras da Ponta Leste, em Jacuecanga, Angra dos Reis. O transporte era muito ruim em 1975, se perdesse o ônibus para Angra de manhã não tinha outro. Eu passava a semana em Angra e voltava pra casa apenas no final de semana. Saía às 3h da manhã da segunda e voltava na sexta ou no sábado. Depois, fiquei trabalhando pela Cristiane em jornadas de 15 dias no terminal de São Sebastião, em São Paulo, e em 1979, passei para o Estaleiro Verolme. Com esses empregos longe, Mangaratiba virou praticamente uma casa de veraneio, tanto que pouca gente de meu bairro me conhece. Uma vez um rapaz de Conceição o apresentou ao Cícero, dizendo que ele era morador da cidade há muito tempo, e Cícero ficou cabreiro por não me conhecer. Os primeiros moradores do bairro chegaram bem antes de mim. Tinha pouca gente, algumas pessoas de Paraty, como uma senhora chamada Dona Antonia e o Sr. Sebastião Marrueiro, entre outros. No máximo, dez casas na minha rua, que praticamente não era uma rua. Quando saía de casa com chuva tinha que levar um sapato extra para trocar antes de entrar no ônibus, porque ficava todo atolado de barro vermelho. Hoje, tem muitas casas no bairro, muita gente de fora e desconhecidas, especialmente nas épocas de feriados. O boom do bairro aumentou dos anos 2000 pra cá, muito dessa fuga do Rio. Minha esposa é mangaratibana, com mãe de Paraty e pai português. Nos conhecemos na cidade em 1975. Tivemos um filho em 1979, que nasceu e estudou na cidade, até o final do ensino médio. Nunca tive um conjunto musical, mas cheguei a tocar em uma festa junina que acontecia no Bela Vista, que atraía gente da cidade toda e até de outras cidades. A festa tinha barraquinhas típicas, além de um palco. As pessoas dançavam no chão de terra, que levantava alta e colava nas pessoas. Meu filho, Alexandre, se formou em Educação Artística e aprendeu a tocar acordeom e mais outros instrumentos, incentivado por mim. O que desperta meu afeto por Mangaratiba, o que dá saudade, é a época em que todo mundo se conhecia, a cidade era mais entrosada e as pessoas se respeitavam.

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