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Emil Crokidakis Castro (Emilzinho)

EMIL CROKIDAKIS CASTRO (EMILZINHO)

MANGARATIBA - CENTRO

Nasci em 1971 no Centro de Mangaratiba. Minhas memórias são da vila, do centro histórico. Morava numa casa “na calçada”, então a infância foi brincando na rua. Tomava banho de água doce no chafariz depois da praia, jogava futebol na rua de paralelepípedo, ia para o cais mergulhar da ponte. Lembro da vala onde brincávamos e foi canalizada e hoje é o beco. Tinha água corrente, peixinhos, era toda ladeada por pedras. Os quintais das casas davam nesse riozinho, então as crianças acessavam as casas pelos quintais de trás. Na época de Copa do Mundo, pintavam as calçadas, e no verão, sentavam nas calçadas para conversar. Eu tinha muita relação com os pontos históricos da cidade. Além do chafariz, tinha a praça, que era de saibro, onde a gente jogava bola de gude e, na maré cheia, pulava da ponte. Também frequentava a praia de Mangaratiba, hoje imprópria. Cheguei a pegar o finalzinho da época do trem. Fazia cerol de pipa no trilho do trem, amassando o vidro e deixando sobre os trilhos para o trem triturar. Lembro bem da transição do Centro: o trem parou de vir, mas deixaram os trilhos. Com os trilhos não passava carro, então naquele percurso as pessoas tinham que andar a pé ou nos troles, veículos adaptados para andar sobre os trilhos com rodas de carros. Era muito usado para transportar material de construção e outras coisas mais pesadas pela avenida litorânea. Era empurrado com vara de bambu e pegava uma boa velocidade. Sempre pegava carona com o Nilsinho. A Rede Ferroviária tinha os assentados, gente que trabalhava na manutenção e que morava ao longo da linha e, depois que morriam, deixavam os herdeiros nas casas. Na Praia da Ribeira, tinha os gêmeos idênticos Valdomir e Valdecir, e o Mi tinha um trole, que fazia esse serviço de transporte. Diz que o pessoal ia a pé pra praia, mas na volta, cansados, pegavam carona com o Mi. Meu avô era da Ingaíba, foi morar na vila, depois trabalhou com caminhão e transporte para a prefeitura. Então, muitas vezes ele fazia o transporte do pessoal para as festas de Rio Claro e de São João Marcos. Uma das fotos mais icônicas do Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos é do meu avô na janela do jipe. A Serra do Piloto era meu passeio de domingo. Minha família sempre fazia piqueniques ou visitava o sítio de alguém, porque tínhamos uma relação muito próxima com os moradores da Serra. Meu avô caçava e conhecia todas as pessoas da região. Lamento que a caça ainda exista, ainda mais de forma predatória. Assim como se tira palmito indiscriminadamente. Meu pai, advogado também, recebia galinhas, cágado, tatu e outras coisas como forma de pagamento. Lembra que, na infância, não tinha defensoria pública em Mangaratiba. Então meu pai, que era advogado, atendia as pessoas mais pobres e recebia muita coisa da Serra como agradecimento por seus trabalhos. Lembro do Antônio Padre, uma referência muito forte para todos. A relação veio das atividades na igreja, mas nunca foi padre. Ele criou um espaço em seu sítio, próximo ao acesso de São João Marcos, em Ponte Bela, onde ficava de portas abertas para receber qualquer um que chegasse. Recebia, inclusive, visitas internacionais, como padres alemães relacionados à história do santo. Era um local de troca, onde as pessoas que tinham fome entravam e comiam e, quem podia, deixava algo para que os outros comessem. Além de ele ter um acervo de fotos de São João Marcos, que foi para o Centro de Memória de São João Marcos. Há alguns anos me tornei proprietário da Fazenda da Lapa. Um dia recebi o neto do Doutor Cordeiro, Enrico. Ele contou que a fazenda era maior, alcançava todo o entorno do Rio da Lapa. Em um momento, juntou-se com a Fazenda Piloto em uma única propriedade, onde se produzia café, e depois tudo foi loteado. Os nomes dos sítios variam em torno de Nossa Senhora de Fátima. A capela foi um pagamento de promessa do Dr. Carneiro em agradecimento pelo parto de sua esposa ter transcorrido bem depois de uma gravidez de risco da qual nasceu o pai de Enrico, filho temporão. Minha relação com a Serra inicialmente era curiosa, mas com os anos foi se tornando mais frequente e hoje é bem próxima. Me apaixonei pela estrada e sua engenharia admirável, que é um marco histórico, com pontes de pedras encaixadas, num trabalho como era feito nas melhores estradas da Europa da época, e pela Serra e suas riquezas naturais, que ainda está se mantendo, apesar de ser uma mata terciária, que passou pelo ciclo do café, da banana e do carvão, mas voltou. O perfil econômico da Serra foi mudando. A banana foi muito importante economicamente e muitos ali conseguiam viver da banana em suas terras, que era rentável. Foi o último ciclo econômico agrícola. Com a queda da banana, muita gente não esperou a 'levantada' que a Rio-Santos proporcionaria e se desfez de terras por uma bagatela. Muitas áreas que foram tomadas por condomínios eram de famílias que viviam da terra de alguma forma; que a própria Ilha Guaíba, que hoje é dominada pelo porto da Vale, tem uma vila de moradores que foi minguando com o fim da economia agrícola. Há alguns anos me candidatei à Prefeitura, numa chapa com Silvio, mas perdemos. Hoje, faço parte da Associação dos Empreendedores de Turismo de São João Marcos, junto com Lucimary, e luto pela preservação da Serra do Piloto e da Estrada, além da melhoria na qualidade de vida dos moradores.

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Mirian Bondim Satyro

MIRIAN BONDIM SATYRO

MURIQUI

Historicamente, minha família é muito antiga na cidade, no distrito de Muriqui, anterior à emancipação política. Os Bondim vieram da Ilha de Malta em 1828. Apesar da família ser poderosa na cidade, dona das terras do Sahy, meu tataravô comprou uma fazenda em Muriqui, que foi ficando como herança de família. Muriqui era uma fazenda só. Nasci nessa propriedade que foi repartida entre os irmãos e depois vendida. Meu pai se preocupava com a preservação da região, nunca quis vender nada, então tinha muita terra com quintal e cachoeiras. Fui criada na roça, com bois, cavalos e bananas. Estudei o ensino fundamental em Muriqui, na Escola do Barros, e passei a frequentar o Centro quando comecei a namorar meu primeiro marido. O trem de Mangaratiba era considerado um dos passeios mais bonitos porque vinha à beira-mar e, se você se sentasse na porta, muitas vezes a onda batia e explodia em cima de você. Usava muito o trem para ir à vila estudar e namorar. Com a chegada da Rio-Santos e o fim do trem, tudo mudou. Lembro de ter uma conversa com Cícero na época da construção da estrada. Com tanta gente reclamando, ele comentou: “deveriam deixar um pedaço de terra sem asfaltar, só para o povo lembrar como é que era difícil antes”. O pior que veio com a estrada foi o crescimento desordenado. Da Praia do Saco até Jacareí foram sendo criados resorts e condomínios caríssimos, dos mais caros do país. As populações que moravam ali, colonos, da terra, que plantavam, foram sendo retiradas. Lembro que o Luiz Perequê, de Paraty, tem uma música perfeita sobre a construção da Rio-Santos, das pessoas que foram trabalhar sem ter direito a quase nada. A cidade não conseguiu se conectar com a Rio-Santos. O último ônibus para Muriqui sai 9 horas da noite, então as pessoas se amontoam em carros e ubers, porque não tem como contar com eles. O ônibus não entra em alguns bairros pela geografia, mas na Praia Grande não entra porque a Associação de Moradores não permite. Também não permitiram a construção de quiosques na orla e outras “urbanizações” que descaracterizam o lugar. No passado, vinha de Muriqui para a vila de trem quando comecei a namorar seu primeiro marido, aos 16 anos. Ia para o cinema, para os bailes do clube, frequentava a praça, a praia. Fui paciente do Cícero. Casei-me e passei a frequentar ainda mais a vila. Ia para Ilha Grande para ir à praia com os filhos, por sugestão de sua cunhada, já que era muito barato pegar uma lancha, atravessar, e voltar no final do dia, fazia isso quase toda semana. Tenho uma ligação forte com a Ilha até hoje, vou pelo menos três ou quatro vezes ao ano. Estudei e me tornei professora da rede pública. Por meu amor pela cidade, acabei indo trabalhar com patrimônio e na Fundação Mário Peixoto. Trabalho com a memória da cidade, gosto, investigo tudo. Fui atrás da memória do cinema e queria algum objeto de acervo do cinema para a fundação, mas ninguém sabe de nada. Sinto saudade do vôlei na praia, do carnaval e do Clube Náutico, com os bailes, festas e eventos. O carnaval na cidade hoje acontece por obra de algumas poucas pessoas que não querem que a festa morra. O Geraldo Bertilo tira dinheiro do próprio bolso para fazer o Carnamar, criado por ele, e um dos poucos eventos ainda existentes. Mas os clubes foram morrendo, não só em Mangaratiba, mas no Brasil como um todo. Muriqui tinha camisa de 'Carnaval em Muriqui: Eu Fui'. Clóvis Bornay desfilava no Sírio Libanês e, no dia seguinte, aquele grupo todo vinha desfilar em Muriqui. Sinto saudades do que vivi na juventude, na época em que comecei a namorar meu ex-marido. Mas, ao mesmo tempo, ficamos com aquela 'Mangaratiba saudosa' na cabeça e não nos damos conta de que ainda é uma ótima cidade.

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Lucimary Kaiser de Queiroz

LUCIMARY KAISER DE QUEIROZ

SERRA DO PILOTO

Não nasci em Mangaratiba, mas desde sempre frequento a cidade por causa dos meus avós – o Sítio da Parada da Barreira era deles, adquirido em 1961. Antes, meu pai já tinha a Fazenda Rio da Prata, em Rio Claro. Minhas recordações de infância são da Serra do Piloto e da estrada, que era toda murada e em perfeitas condições – ao longo dos anos foi se deteriorando. Meu avô Cornélio Kaiser já fazia o sistema agroflorestal, por instinto. Lavrador vindo de Minas Gerais no pós-guerra (46 ou 47), passou a plantar banana no sítio. Como é um terreno muito rochoso, brinco que ele “tirava banana de pedra para viver”. Foi o primeiro na Serra a ter luz elétrica nos anos 1970. Comprou um gerador francês e fez uma miniusina d’água próximo da cachoeira. As terras vão até um pouco depois da Cachoeira dos Escravos. Era bem restrito, com horários rígidos de funcionamento, mas pioneiro. Minha avó, Maria Maggiollo Kaiser, era benzedeira e parteira na Serra. Nossa casa era o entreposto na região, onde o médico deixava os medicamentos para que as pessoas pudessem buscar em caso de emergência. Não tinha ônibus. A Estrada do Atalho, que era feita em pedra “cabeça de negro”, passa pela propriedade. Acho que tem esse nome porque as pessoas que não tinham carro, carroça ou cavalo preferiam ir por lá porque realmente o trajeto é mais curto até a vila. Da minha infância, lembro também da Folia de Reis. Vinham três homens vestidos de palhaço e iam passando de casa em casa, entre elas a dos meus avós – nos anos 70. Lembro bem do trem Macaquinho, que eu pegava na Central, ia até Santa Cruz, e de lá trocava de trem e ia até Itaguaí. Passei toda a infância frequentando o sítio dos meus avós. Depois, adulta, acabei passando longos períodos sem ir à Serra, porque morava fora do estado. Formei-me em Turismo e trabalhei muitos anos com isso até finalmente conseguir me estruturar para voltar para a Serra e transformar a propriedade da família em um negócio. A maioria das pessoas que mora na Serra trabalha como prestadores de serviços ou empregados dos condomínios e resorts da cidade. As mulheres descem para trabalhos domésticos, como faxineira e babá, e os rapazes atendem como jardineiros e manutenção. O transporte é bem precário. São quatro vezes por dia, mas no domingo não tem o último horário. O ônibus é sucateado, a empresa não preza pela manutenção. Uma vez, no horário mais cheio, o da manhã, o ônibus só não despencou da ribanceira sem freio porque o motorista jogou o veículo em um poste. É uma passagem cara pela quilometragem. A estrada hoje recebe fluxo muito pesado de trânsito, com ônibus, caminhões, carretas e isso sobrecarrega a estrada. Hoje, há duas associações na Serra do Piloto. Gugu é presidente da Associação de Moradores. Eu sou presidente da Associação dos Empreendedores de Turismo da Serra de São João Marcos, onde estamos montando o Circuito São João Marcos para impulsionar a preservação e o turismo da Serra do Piloto. Um dos objetivos é justamente melhorar a estrada. Que se reforce a preservação, o limite de peso e, se possível, uma estrada-parque, já que muitos animais silvestres são atropelados.

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Genny Simões Seixas

GENNY SIMÕES SEIXAS

CENTRO - MANGARATIBA

Nascida em 1930 em Mangaratiba. Meu pai chegou do Líbano com 4 anos, minha mãe era da Síria, se conheceram e formaram família. Passaram por Santa Cruz e por Itacuruçá, ambos os lugares com muitos parentes, até chegar a Mangaratiba, onde se estabeleceram. Meu pai montou uma venda tipo 'Secos e Molhados' com uma bomba de gasolina na calçada. Sou a sexta filha mulher do casal. Minha mãe tinha medo de uma crendice que dizia que se nascesse uma sétima menina seria bruxa. Por sorte, o sétimo foi um menino. Estudei na escola da cidade, de Dona Cordélia, com apenas duas salas de aula, durante o ensino fundamental. Quando não estava na escola, cuidava dos irmãos mais novos e dos filhos da Família Januzzi, donos do Hotel Rio Branco, para que as crianças não ficassem lá atrapalhando o serviço. Eu educava e alfabetizava as crianças. Era muito ativa nas atividades da escola e da igreja. A direção da escola não ficava em Mangaratiba e sim em Angra dos Reis, então qualquer anotação sobre as atividades dos alunos era enviada de barco para o diretor. Na minha pré-adolescência, foi construída uma escola, mas eu já tinha ido estudar no Rio de Janeiro onde fiquei até me formar no colegial, hoje ensino médio. Comecei a cursar Contabilidade no Rio, mas desisti no primeiro ano. Me casei no Rio, na antiga Catedral Metropolitana. Então voltei para Mangaratiba, fiz concurso para a prefeitura e me tornei assistente de contabilidade. Fiquei 11 anos na prefeitura, até que pedi licença para ajudar o meu marido no bar, montado onde hoje é o Cyber Café da praça. Tive dois filhos e não voltei mais para a prefeitura. Continuei ajudando no bar e fazendo costuras para fora. Era uma ótima costureira, apesar de não ter tido estudos, fazia encomendas até para o Rio de Janeiro, e ainda ensinei muita gente a costurar. Também alfabetizei muita gente com aulas particulares. Morei em duas outras casas por períodos curtos, mas passei praticamente a vida toda na mesma casa onde moro hoje e pertencia à família.

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José Augusto Vital de Gouveia (Gugu)

JOSÉ AUGUSTO VITAL DE GOUVEIA (GUGU)

serra do piloto

Nasci em 1951, morava no Rio de Janeiro e fui para Serra do Piloto com meu pai, que puxava carvão na década de 1950. Quando dividiram o fazendão, meu pai trouxe muita gente, inclusive o próprio pai, que tinha um sítio em Bangu. Ele comprou um lote do lado do pai e o irmão o do outro lado. Meu avô teve 52 netos. Meu pai e meu tio tinham caminhão e, nas férias, eles colocavam bancos na carroceria e levavam a família toda para a Serra passar 15 a 20 dias. De todos os netos, eu era o único que adorava ir para a Serra. Quando era criança, nas férias, pedia dinheiro para a mãe, fazia uma bolsa e pegava o trem até Santa Cruz; de lá, o Macaquinho para a Vila; na Vila, pegava o ônibus do Antonio Corteiro Portugal, que era um dos amigos portugueses de meu avô que vieram para a cidade na mesma época. Tinha o horário de descida às 6 da manhã e de subida às 18h. O tempo que eu tivesse de férias ficava na casa dos meus avós. Lembro que a estrada era linda, com calçamento de pedra, 14 quebra-molas invertidos, com a água correndo e caindo nas galerias. A água era constante, de janeiro a dezembro, que se perdeu devido ao desmatamento. Era toda de pé-de-moleque, tão bem assentada que o carro nem balançava. Quando o Antonio Padre morava com a irmã, tia dele, na década de 1960, ele tomava conta da garagem de alvenaria e fazia dali seu ateliê. Quando ele montava o presépio, vinham carrões da Zona Sul com máquinas fotográficas para registrar. Eu o ajudava. Ele fazia tudo de barro tabatinga, esculpido a mão. Eu ia com Antonio e os primos buscar tabatinga no sítio do tio Luiz, pai da Elza. Quando o avô não pôde mais trabalhar porque quebrou o fêmur, o Antonio Padre, que era primo dele de criação, foi tomar conta do meu avô e do sítio. Quando a minha família vendeu a primeira parte do terreno, o Antonio Padre foi pra igreja ser ministro de eucaristia, mas depois de uma briga com um padre ele foi morar no Macundu. Ele se tornou uma pessoa muito conhecida. Meus tios acabaram vendendo primeiro uma parte das terras e a de meu avô e, por último, a família vendeu a parte do meu pai, sobrando apenas uma chácara para mim. Com a morte do meu pai e do meu avô, fiquei muito tempo sem frequentar a Serra e, quando ia, ficava acampado com a família por uns dez dias. Naquela época, era tradição contar histórias de assombrações e quem mais gostava de contar histórias de assombração na Serra era o Toninho, filho do Antonio Portugal. Era uma figura com muita personalidade. Da região da Fazenda da Lapa, lembro que tem um cemitério de escravizados próximo e uma senzala também. Passei a morar na Serra e depois fui obrigado a voltar para o Rio de Janeiro por causa do trabalho e, quando me aposentei há dois anos, voltei. Hoje sou presidente da Associação de Moradores da Serra do Piloto.

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Ernestina da Silva Firmino

ERNESTINA DA SILVA FIRMINO

Ingaíba

Nasci na Ingaíba em 1939, em uma casa de sapê sem paredes, pois minha família era muito pobre. Comecei os estudos, mas a escola ficava longe, era preciso atravessar três cachoeiras para chegar, então acabei desistindo. Quando tinha 8 anos, meus pais e eu fomos levados para morar e trabalhar na Fazenda Santa Izabel e, durante muito tempo, continuamos morando em casas de sapê. Ainda criança, fui levada para trabalhar na casa de Seu Zé Miguel e Dona Maria, cunhada do Sr. Vitor Breves, em Copacabana, Rio de Janeiro. Quando eu errava alguma coisa, ela batia muito em mim, tirando sangue. Adolescente, tentei ir embora e Dona Maria não deixou, me batendo muito. Foi quando eu corri para a casa de Dona Tita, mulher do Sr. Vitor Breves, que me acolheu e me mandou de volta para fazenda, para trabalhar na casa de Dona Helena, filha do Sr. Mario. Na casa da Dona Helena não comecei a trabalhar como cozinheira. Não apanhava, mas o trabalho era muito duro. A família recebia convidados e todos ficavam jogando cartas até madrugada, e eu e outra funcionária, a Eurídice, tínhamos que ficar acordadas servindo a todos até que fossem dormir. Eu não recebia salário, só as visitas davam gorjeta na hora de ir embora da fazenda. Passei boa parte da vida assim, servindo como cozinheira na casa da fazenda, sem salário nem instrução. Aos 21 anos, em 1961, me casei com Manoel Firmino, também funcionário da família, nessa época, da fábrica da Bananada Tita. Foi quando eu pude começar a frequentar a escola do Seu Dinão, que ficava numa casinha acima da fábrica, perto da Dona Nair, onde finalmente fui alfabetizada, mas não fiz estudos formais. A vida era muito simples e muito dura. Só saímos da fazenda se fosse muito necessário e sempre a pé. Quando alguém ficava doente à noite, pedíamos ao Davi que levassem de caminhão ao médico. Trabalhei como cozinheira na casa sede ainda por muitos anos, até me aposentar. A família ainda mora no mesmo lugar. Minha casa é uma das únicas que tem luz elétrica. Isso permitiu que meu filho Marcelo pudesse trabalhar como artesão, esculpindo as madeiras que ele encontra caídas pela fazenda. Marcelo se casou e construiu a sua casa bem próxima, com madeira e barro. Com a venda da fazenda, vieram as ameaças e os conflitos. Passei a ter muito medo de tudo, tremer de medo, e ter dificuldade para dormir. Os quilombolas não sabem nem quem são os novos donos da fazenda porque nunca vieram conversar. Mesmo na audiência, só foi o advogado. As ameaças só abrandaram quando Miriam Bondim e Vânia Guerra começaram a ajudar e entraram com os dois processos que estão tramitando na Justiça. Foi só aí que o meu medo começou a diminuir, mas ainda não sumiu: quando ouço qualquer barulho já penso logo que pode ser tiro. Hoje estou um pouco mais esperançosa com o que estamos conquistando. O que mais gosto de Mangaratiba são os vizinhos.

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Sonia Tavares

Sonia Tavares

SITIO BOM

Nasci em 1957 em Sítio Bom, uma localidade da cidade a caminho de Conceição do Jacareí. Meu bisavô veio de Portugal em 1900 para trabalhar na casa dos Guimarães e, quando o bisavô morreu, seu único filho, Ovídeo Tavares da Silva, foi trabalhar para o Coronel Moreira da Silva, o primeiro prefeito da cidade, que o ajudou a se estabelecer. Ovídeo se casou com Maria Isabel e teve 14 filhos. Quando eu era criança, a área era realmente um sítio, herança dos avós aos pais e tios, com plantações de legumes, bananas, feijão, e criação de animais como gado e aves, que a família usava para consumo próprio e comercializava também. A banana era transportada do sítio para o Centro de canoa, e quando a quantidade era muito grande, ia um barco buscar. Tenho lembranças boas da infância, de brincar pelas ruas da cidade, e pelas praias, assim como na fazenda com os irmãos e primos. Tínhamos liberdade de entrar e sair, não tínhamos medo das pessoas, conhecíamos todos. Era uma outra paisagem, as casas ficavam abertas para todos. O Cícero ia sempre lá, era amigo da família. Nessa época, não tinha ainda a rodovia Rio-Santos, então para ir de Sítio Bom para o Centro só de canoa. Tudo o que a família produzia era levado para ser vendido na vila em canoa. A escolha de quando ir era sempre de acordo com a maré. O canoeiro sabia se a maré estava boa ou não para enfrentar o mar, principalmente por causa do vento. Meu tio sempre dizia que “ia à vila”, e só mais velha fui entender por que “vila”. A gente se sentava à mesa com meu pai e meus tios e eles contavam a história da família. Contavam muito a história do Brasil. Mas hoje em dia não se faz mais isso. As meninas iam para o campo jogar futebol junto com os meninos, tomavam banho de mar à noite, tomavam banho de cachoeira juntos. Não havia distinção entre meninos e meninas. Uma infância muito boa. Aos 7 anos, fui para o Centro estudar porque a escola lá era deficiente, muito pequena, com as idades todas misturadas. Fui morar com uma tia, irmã do meu pai. Dividia a infância entre o Centro e o Sítio Bom. Lá na roça vivíamos livres como passarinhos. A família é muito grande, são muitos tios e primos, então era uma comunidade só de parentes. Brincávamos muito, vivia na praia, curtia festinhas de família. Durante a época de escola, passava a semana no Centro e o final de semana em Sítio Bom. Fui aluna de geometria do Cícero. Na adolescência, passei a ficar mais no Centro. Depois cresci, casei e mudei de vez para a vila, onde me tornei professora, profissão que exerci a vida inteira. Hoje, além de dar aulas, temos um restaurante com meu filho, entre o Píer 51 e o Sítio Bom, chamado Prainha do Pinheiro. O comércio é dividido em dois espaços, um mais na encosta, mais recente, e outro mais antigo na beira da praia, herança da família, que foi reformado. Das memórias afetivas, sinto saudades do carnaval, além da festa da padroeira, esperada o ano todo, que enchia a cidade. Meus parentes de Sítio Bom vinham todos e dormiam na casa da minha tia, na vila, para aproveitar a festa inteira.

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Darcy Rosa das Neves

DARCY ROSA DAS NEVES

Mangaratiba - centro

Nasci em 12 de outubro de 1943 em Paraty. Quando adolescente, conheci Mário Peixoto já maduro. Conheci também Vitor Breves e José Miguel. Cheguei em Mangaratiba com cerca de 15 anos para morar na Vila e passei a trabalhar como cabeleireiro. Por meio desse ofício conheci muita gente. O salão ficava em frente à praia onde hoje é a sorveteria. Na época do início da minha vida profissional o trem com Maria Fumaça passava na frente do salão. Os clientes vinham de trem, de Ibicuí e outros bairros. Não lembro de atender o Mário Peixoto, porque ele ainda era muito novo e os mais velhos não tinham confiança. Mas o Vitor de Souza Breves atendi. Lembro que ele já estava com mais de 80 anos e chegava no salão em uma charrete puxada por animais. Vinha acompanhado de funcionários que o ajudavam a se movimentar. Os frequentadores do salão ofereciam voluntariamente seus lugares na fila do corte para ele. Ele chegava devagar, alguém arrumava uma cadeira pra ele se sentar, e quando liberava a cadeira davam lugar a ele. Tenho título de cidadão, quatro filhas nascidas aqui e esposa mangaratibana. Adoro a paisagem da cidade, essa visão, esse ar, essa tranquilidade. Quando penso na cidade, penso na minha família, mas duas de minhas filhas, uma psicóloga e uma nutricionista, até tentaram empreender na cidade, mas não funcionou. Elas mudaram para outro lugar.

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Marli Rodrigues

MARLI RODRIGUES

Mangaratiba - centro

Vim parar em Mangaratiba há 50 anos por intermédio do pessoal do futebol. Abri uma pensão de comida, me apaixonei, casei e fiquei para o resto da vida. A cidade era muito boa: tinha bloco de carnaval, cinema... aí acabaram com o cinema. Todo mundo se conhecia. Depois foi tudo se modificando. Há 30 anos moro do outro lado da Rio-Santos, na Praia do Saco. Vi a Rio-Santos chegar. A pensão também era na Praia do Saco, mas eu fechei há alguns anos. Lembro que antes era difícil chegar lá porque a estrada era ruim e o ônibus atolava. Eu servia principalmente para as firmas, que tinham mais de 10 mil funcionários. Meu marido sofreu um acidente grave de trabalho. Ele era lanterneiro e teve boa parte do corpo queimado. Mas mesmo depois do acidente ele ainda foi mestre-sala de bloco, e eu saí de destaque. Adorávamos o carnaval! Ele teve uma oficina mecânica em casa e descobriu que estava com câncer porque começou a cair muito da bicicleta – ele ia pra todo lugar de bicicleta. O acompanhei até o fim.

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Natalino Teixeira da Cunha

NATALINO TEIXEIRA DA CUNHA

ILHA GUAÍBA

Fui um dos primeiros funcionários da MBR. A empresa foi inaugurada por volta de julho ou agosto de 1974. Entrei em 2 de janeiro de 1975 e fiquei na empresa por 35 anos sem parar. Mangaratiba no começo era maravilhosa: tinha a estação com o trem. A MBR no começo era ótima para as pessoas. Comecei pequeno. Trabalhava no terminal da Ilha Guaíba. Atravessava de barco todos os dias de manhã. No início, ainda tinha o transporte de funcionários por trem, mas quando o fluxo de gente e de minérios aumentou eles passaram a enviar funcionários só de barca. Embarcava todos os dias no porto do Centro e morava pertinho da plataforma. Me aposentei em 2009 e nunca mais voltei ao terminal. Não tenho vontade porque muita coisa mudou para pior. O progresso não foi bom, não. Havia três clubes, um carnaval maravilhoso. As pessoas ficavam passeando na rua Coronel Moreira da Silva, conversando. A festa de Nossa Senhora da Guia era enorme, cheia de barracas, e hoje, quando tem festa, não é mais a mesma coisa. A praça era diferente – a gente brincava sobre quem frequentava o “jardim de cima”. Na época de festa, ia até a beira da Andorinha pegar palha de coco para fazer as barracas. Faziam forró à vontade. Andei em muitos lugares e o que mais gosto é da amizade, o convívio. Não tem coisa melhor do que andar pelas ruas, conhecer todo mundo e as pessoas falarem com você. Até hoje é assim. Meu ponto é um banco da praça onde dizem que quem senta, morre. Mas morre com 90 anos, então tudo bem!

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