Nasci em 1951. Em Praia Grande, a luz chegou um ano depois do nascimento do meu filho, em 1975. Minha sogra, mãe de Sara e Cira, fez o parto à luz de lampião. Eu estava fazendo comida pra vender, senti as contrações e a sogra a mandou para o quarto para fazerem o parto. Lembro que a sogra saiu gritando pela casa: “É homem! É homem!”, porque na época não tinha acompanhamento de ultrassom. Meu restaurante e do meu marido Luiz Antonio era o único que tinha na praia, por muitos anos. A gente vendia muito para o pessoal que acampava. Aos 20 anos, aprendi a cozinhar com uma cozinheira de Muriqui. Não tinha mais nada de comércio, só nós. O bar era do meu sogro, fundado em 1965, depois passou para meu marido. Minha sogra ficou viúva com dois filhos, um casal, e decidiu vir de Minas para Mangaratiba, atrás de um primo. Na turma desse primo, ela conheceu o homem que seria seu segundo marido e pai da Cira e da Sara. Do casamento, nasceram mais oito filhos. Lembro que a primeira escola em que estudei ficava onde hoje é o Bazar da Fátima. Sara também estudou lá. Era a única escola que tinha. Depois essa escola acabou e tivemos que ir para Muriqui. Meu marido foi quem ajudou muito a igreja da Praia Grande, ele pagava funcionário para poder ajudar na obra, pagava conta de luz, ajudava como podia e não gostava de contar. Ele ajudava também nas festas, na associação, na escola, em tudo. Os veranistas não tinham telefone, então todos usavam a linha da família. Ele também teve um quiosque, que passou para a filha. O comércio começou a se desenvolver a partir dos anos 90. Eu acho que a época da construção da Rio-Santos foi muito ruim. Teve uma queda de barreira, por causa de uma chuva forte, que levou a parede da casinha que Luiz Antonio tinha feito no terreno que comprou com o pai da Sara. Ficamos abrigados em casas de veranistas até poder construir outra no terreno que compramos, onde hoje é a mercearia e a loja de materiais de construção. Hoje quem mora lá é a irmã dele, da Sara e da Cira, que herdou o terreno do pai. Antigamente, a Praia Grande tinha muito peixe, os pescadores davam o que sobrava. As pessoas vinham de outros bairros, como Sahy e Muriqui, pra pegar peixe com os pescadores que pescavam puxando rede arrastão. Na época em que eu namorava meu marido, ele pescava linguado com os amigos à noite na beira da praia. Antigamente tinha, hoje não tem mais. Hoje não tem tatuí também. Lembro muito do baile de carnaval. A concentração dos blocos era sempre lá no bar. Eu sempre frequentei e ainda frequento a praia, principalmente no sol da manhã. Agora que estou viúva e aposentada, vou sempre que quero porque ninguém tem nada com isso, mas quando eu era casada não ia porque tinha que trabalhar para ajudar meu marido. Quando as crianças eram pequenas eu levava, depois eles cresceram e não quiseram mais saber da mãe na praia com eles. Mas no clube mesmo só podia entrar rico, pobre não entrava. Depois isso mudou e Luiz Antonio passou a ser sócio. O título ainda está com a família, mas ninguém mais usa nem querem vender. Faz pouco tempo que o clube abriu para moradores. No bairro tinha uma festa junina. Luiz Antonio organizava a quadrilha, as barraquinhas, e eu fazia as comidas como angu baiano, mocotó, empadinhas. Ele também fundou a Associação de Moradores, em 1974. Ele era o 'síndico' da Praia Grande, tudo o que quebrava ele que arrumava, da água, da luz, e da manutenção de tudo. Ele cuidava de tudo com amor, sempre pronto para ajudar sem querer nada em troca.