MARIA APARECIDA ANGELO DA SILVA (CIDA)

JUNQUEIRA

Nascida em Junqueira em 1961, numa colônia caiçara. Meus pais eram pescadores e acredito que minha mãe é descendente dos Tupiniquins que foram expulsos do Centro quando os brancos dissolveram o aldeamento. Isso porque minha avó era indígena, com longos cabelos lisos. Os próprios moradores têm essa recordação, das raízes indígenas, apesar de não terem documentação comprovando. A família e a comunidade caiçara nunca tiveram propriedade, sempre foram caseiros, moravam em terrenos de outras pessoas. Quando criança, lembro muito das brincadeiras na praia, da grande figueira na praça, das corridas de canoas (meu irmão venceu três vezes) e da pesca. Era uma comunidade sustentável, que pescava, criava animais e plantava o que comia, e o que não tinha trocava pelo excedente do que produziam com a quitanda do Centro. Não tinha luz elétrica e a comunidade ficava isolada, só podia sair a pé, de barco ou de trem, que passava rente à praia. Tenho no trem grandes recordações, já que que conectava a comunidade com o mundo, levava ao Centro para estudar e via indo e voltando com os veranistas e os moradores. Com a construção do porto, nos anos 60, e a dragagem do canal, a praia mudou e a pesca foi prejudicada. Quando o trem de passageiros parou de passar, na sequência, a comunidade ficou muito isolada e acabou, aos poucos, se dissipando. Depois de uns 15 anos de trilhos abandonados, foram retirados e o caminho transformado em estrada, o que acabou devastando de vez a região, que viu sua praia e encostas sumirem com as construções. Fui estudar no Rio, mas quis voltar, e mudei para o Centro. Já adulta, comecei a me interessar pela história da cidade indo trabalhar na Fundação Mário Peixoto. Sou uma das responsáveis pela salvaguarda da história da cidade e tenho um grupo de forró, que toca nos bares e festas da cidade.

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