Nascido em 23 de junho de 1960 na Serra do Piloto e criado na Praia do Saco. Lá não tinha nada, era um areal com uma área de plantas. Eu morava na parte de cima, no Moraes. A água sempre invadiu. Foi aterrado, mas a água sempre tomou tudo. Tinham diques de areia, mas ainda assim a água invadia. Eu brincava na praia, corria. Mas não tive muita infância e adolescência porque precisei trabalhar muito cedo. Inclusive, em 1973, fui expulso da escola Coronel no 3º ano primário. Aí depois dos 13 anos tive que trabalhar, então não tenho boas recordações dessa época. Trabalhei seis anos como açougueiro e 14 como carreteiro. Hoje, sou despachante público, documentarista e corretor de imóveis. Comecei como açougueiro do José Maricá, em frente ao Magno, da Farmácia. Do outro lado tinha o restaurante do Sebastião Queiroz de Almeida. Eu ia do Saco ao açougue a pé, e o trajeto era tranquilo. Minha família nasceu aqui. Gente de Muriqui, Praia do Saco, Ingaíba... De alguma forma somos parentes da família da Mirian Bondim, mas todos espalhados. As pessoas conversavam muito, eram família, não vizinhos. Hoje não tem mais isso. Frequento Lídice agora, que me lembra como era Mangaratiba antigamente. Moro na Serra do Piloto e sempre gostei de mato, deixei de chegado à praia. Trabalhei no serviço público por muito tempo. Tive muitas funções na prefeitura. Atingi o ápice na política sem ser indicado por ninguém, apenas pelo meu próprio trabalho. Sinto que o município teve algumas mudanças boas, mas isso trouxe alguns transtornos que não estávamos preparados para suportar. Nos últimos anos, a cidade passou por muitos problemas de instabilidade política, que faz com que fique insegura para quem investe no local. A confiabilidade na cidade hoje é zero. Acho, inclusive, que é um panorama geral da política brasileira. O assédio para quem trabalha nos serviços públicos é altíssimo. Sempre recusei ser gestor de orçamento para não ter que ficar suscetível a investidas de corruptores. Muita gente reclama da saída do trem, mas além de ter beneficiado a Vale, hoje o trem traria muito transtorno, com a invasão das pessoas de outras cidades. De carro é mais difícil e ainda assim chegam. Na década de 1970 houve uma invasão, com arrastão, pelo município todo. Saquearam de Santa Cruz até o Centro de Mangaratiba. Houve uma época em que Conceição de Jacareí recebia mais de 150 ônibus por dia. Hoje tem uma lei que faz o controle em toda a região de praia. A rodovia Rio-Santos trouxe muitos benefícios e transtornos também, mas principalmente benefícios. Como técnico da prefeitura (Superintendente de Trânsito) mandei fechar o cruzamento da estrada na Praia do Saco e fazer um trevo, há uns dez anos, que ali tinha morte semanalmente. Fui até preso e conduzido à delegacia por “invasão de domínio”, conflitos de interesses, e coisas assim. Um dia estava chegando e tinha acontecido a morte de um senhor e uma criança, então decidi não esperar mais e fechei com latão de lixo. Arrumei briga com as autoridades, mas de lá para cá, não houve mais óbitos nem acidentes. Me orgulho muito de ter feito isso. Me orgulho também de ter arrumado a estrada da Serra do Piloto, a Estrada de Três Voltas. Toda semana tinham que subir com máquinas para tirar carros ou ônibus que caíam ali. Um dia, ia ter uma festa na cidade e um caminhão caiu ali, fechou a estrada, impedindo que uma ambulância descesse. Eles proibiram que fechasse a estrada, mas fui lá, na marra, e mexi na estrada, alargando. Nunca mais caiu um caminhão ou carro. Se fosse hoje, os caminhões que estão lá tirando a terra que caiu não conseguiriam trabalhar porque não passava. Tive que responder ao IPHAN, mas depois viram que eu tinha razão e não perturbaram mais. Fiz muitas ações para melhorar a questão da mobilidade na cidade, mas a maioria das pessoas que entram para os cargos importantes não estão interessadas em trabalhar. Eu ganhava muito bem, com carro, comida e privilégios, mas dentro do município as pessoas não têm interesse. O município é muito carente. Tem que amar o município. Tudo o que conquistei foi aqui dentro, não precisei sair. Graças ao porto, que hoje anda meio fraco, mas que trouxe muito movimento para a cidade. Eu tenho um táxi e sempre revezei com o caminhão, que vendi há pouco tempo. Sinto falta dos encontros de praça, dos carnavais. Os espaços da cidade estão sendo tomados pelos carros. Não tem mais espaço para se sentar e desfrutar. O “garrafão”, ou bolsa de estacionamento, na frente da igreja, deveria ser um centro de encontro, uma praça, algo para tirar o munícipe de casa. No meu aniversário, estou me programando para, no final de semana, ir passear em outra cidade porque aqui não tem nada para fazer. Todos os secretários de turismo que passaram pela cidade até hoje só sabiam vender shows e não fizeram nada por Mangaratiba. O Legislativo e o Executivo deveriam se unir e criar alguma coisa para melhorar a vida da cidade porque o tempo está passando.