GILSARA PEREIRA GOMES

Praia Grande

Nasci em 1957. Meu pai era dono do único comércio de Praia Grande, um barzinho. No bairro, tinha festa junina e o organizador era o Luiz Antonio. Organizava as quadrilhas das crianças e dos adultos, barraquinhas e, no carnaval, a concentração dos blocos era no bar dele. Na minha infância, lembro de pegar muito tatuí. Eu era muito moleque, ficava brincando na rua o dia todo e quando chegava em casa tinha sempre muita gente pra fazer as coisas da casa, pois eram 11 irmãos, então eu nem me preocupava e só brincava. Eu não gostava de tomar banho nem de arrumar o cabelo. Tinha que fazer tranças por ordem da minha mãe para ir pra escola, mas quando eu chegava na estação de trem eu desfazia tudo. E se não fosse para escola e fizessem a trança, apanhava. Os homens nos viam na rua e falavam: “Menina de trança não é mais criança”. Na minha época de criança apareciam muitos cavalos soltos e às vezes começavam a correr, do nada. O meu pai dizia: “Gente, vem ver que o saci tá aí!”. A nossa casa tinha muita assombração. Uma vez, quando eu tinha uns 17 anos, estava na praia no fim de tarde pra pegar tatuí com minha irmã, tia e meu irmão. Quando chegamos no meio da praia apareceu um “homem” do mar, pretinho, peludo. Não tinha braço, apenas pernas e uns dentes pequenos. Alertei minha irmã para correr, mas ele pegou o dedo dela, começou a rosnar e puxar. Ameacei chamar meu pai, mas desisti. Falei pra minha tia fazer uma corrente para puxar a minha irmã pra longe do bicho, que foi embora. Logo em seguida apareceu meu irmão trazendo meu pai com a espingarda e outros homens do bairro pra tentar pegar o bicho, mas ele não apareceu mais. Conto essa história para todo mundo e dizem que era um Xangô do Mar. Nesse ponto da praia eu nunca mais tomei banho de mar. Na juventude, eu fugia muito de casa pra ir pras festas. Bebia e chegava em casa torta de madrugada e minha irmã chamava minha atenção. A minha mãe perguntava se eu tinha bebido e eu respondia: “Bebi, mãe. A senhora quer me bater?” e cruzava os braços e deixava a mãe bater, só pra não perder a festa. Outra história: um dia chegou um homem viajante vestido de mulher. E a gente não percebeu que era um homem. Pediu comida, minha mãe fez. Então ele disse que precisava ir ao Sahy e pediu para que uma das filhas o acompanhasse e minha mãe falou que ele podia escolher. Ele me escolheu e eu me recusei! Só depois a gente soube que ele tinha sido atropelado e estava no hospital da cidade, aí descobrimos que não era mulher.

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