INÊS LUCAS DE ALMEIDA

Praia Grande

Nasci no Rio de Janeiro em 1966 e só frequentava Mangaratiba como veranista ainda adolescente, a partir dos 12 anos. A família do meu atual marido tinha uma casa na cidade e éramos colegas de escola. Eu visitava junto com a turma e ia embora. Quase trinta anos depois, já viúva do meu primeiro casamento, reencontrei com esse amigo da escola e nos casamos. Fiz prova de concurso para professora em Mangaratiba e passei. Hoje, a Praia Grande é a minha terra. Ajudo a cuidar da praia, faço as plaquinhas de sinalização. Assumi a presidência da Associação de Moradores. Faço tudo pela comunidade. Aqui é minha a casa. Minha recordação da época de adolescência era a Praia Grande com pouquíssimas casas. A escola não existia. Tinha uma cachoeira lá em cima que era aberta e saíamos da praia para tomar banho lá. Tinha muitos cactos, eu mesma caí em cima de um. Sou professora da Escola Municipal Praia Grande. Apesar de a escola ser considerada de área rural, é muito mais urbana do que antigamente. Lembro do trem Macaquinho, mas vinha de carro com meus pais. Meus amigos iam de trem pra fazer bagunça. A gente acampava na praia, junto com muitas outras barracas. O Sidnei, meu marido, tinha casa ali, então a gente dormia na praia, mas tínhamos um ponto de apoio. Os pais do meu marido compraram o terreno ali quando ele tinha 10 anos, em torno de 1975. Ao redor só tinham as casas. Em 1980, já frequentava a Praia Grande e ainda não havia quase nada de casa, íamos para a cachoeira lá em cima sem nada. A maioria das casas hoje é de veranistas, mas muita gente passou a morar depois da pandemia. Na minha rua, antes da pandemia, eu era a única moradora. Depois, além da pousada da Dona Liana, passaram a morar mais cinco. Quando me mudei, em 2016, meu marido ainda trabalhava no Rio de Janeiro e eu na Praia do Saco. Eu ficava muito tempo sozinha e tinha medo. Passava na frente da Escola Municipal Praia Grande e perguntava: tem uma vaga aí pra mim? Até que consegui ser transferida e fiz amizade com as pessoas do bairro, o que me deixou mais tranquila. Amo a Praia Grande de hoje. Com a desapropriação da Rio-Santos, a cachoeira deixou de fazer parte do clube. Eles construíram um muro, mas a cachoeira não é mais parte. Construíram uma quadra e um banheiro. Não tem mais moradores lá. Fui a convite, porque não sou sócia. Vi que eles fazem eventos bem fechados, apenas para associados. O bairro só tem uma entrada/saída. Já aconteceu de ter um morador passando mal e a ambulância não conseguir entrar no bairro. É uma luta da Associação para que se limite o número de carros que podem entrar no bairro de cada vez. A alegação é que a praia é pública então não se pode fazer essa restrição de acesso, mas as autoridades e os visitantes também têm que entender que é preciso organização porque o espaço não suporta. Os ônibus e vans param lá em cima, na estrada, e os passageiros vêm a pé. Tudo bem, que o problema não são as pessoas, mas sim os carros e as ocupações irregulares. Mesmo com multa e reboque as pessoas voltam a fazer as mesmas coisas. A questão do meio ambiente me mobiliza muito e já conseguimos muita colaboração para a Praia Grande: limpeza da praia, cooperativa para buscar as garrafas, outra para coletar o óleo de cozinha. Uma estação de tratamento foi construída, mas nem todas as ruas estão ligadas à estação e precisa fazer o mapeamento. A burocracia é grande e envolve política. Tem um grupo de voluntários que faz as placas da praia, que cuida da manutenção. A praia é o quintal da minha casa. Já conseguimos muita coisa: a quantidade de lixo diminuiu, colocaram caixas d’água como latas de lixo, as pessoas estão mais conscientes. Mas ainda assim tem quem quebre as lixeiras, arranque as placas. O trabalho da associação de melhorar o bairro tem atraído mais gente. Tem o lado positivo e o negativo. Minha memória afetiva é a de acampar na praia, o trem passando de madrugada. Mas a afetividade maior é recente: querer que Praia Grande continue essa comunidade unida. É uma grande família.

Outras histórias

No more posts to show