Sonia Tavares

SITIO BOM

Nasci em 1957 em Sítio Bom, uma localidade da cidade a caminho de Conceição do Jacareí. Meu bisavô veio de Portugal em 1900 para trabalhar na casa dos Guimarães e, quando o bisavô morreu, seu único filho, Ovídeo Tavares da Silva, foi trabalhar para o Coronel Moreira da Silva, o primeiro prefeito da cidade, que o ajudou a se estabelecer. Ovídeo se casou com Maria Isabel e teve 14 filhos. Quando eu era criança, a área era realmente um sítio, herança dos avós aos pais e tios, com plantações de legumes, bananas, feijão, e criação de animais como gado e aves, que a família usava para consumo próprio e comercializava também. A banana era transportada do sítio para o Centro de canoa, e quando a quantidade era muito grande, ia um barco buscar. Tenho lembranças boas da infância, de brincar pelas ruas da cidade, e pelas praias, assim como na fazenda com os irmãos e primos. Tínhamos liberdade de entrar e sair, não tínhamos medo das pessoas, conhecíamos todos. Era uma outra paisagem, as casas ficavam abertas para todos. O Cícero ia sempre lá, era amigo da família. Nessa época, não tinha ainda a rodovia Rio-Santos, então para ir de Sítio Bom para o Centro só de canoa. Tudo o que a família produzia era levado para ser vendido na vila em canoa. A escolha de quando ir era sempre de acordo com a maré. O canoeiro sabia se a maré estava boa ou não para enfrentar o mar, principalmente por causa do vento. Meu tio sempre dizia que “ia à vila”, e só mais velha fui entender por que “vila”. A gente se sentava à mesa com meu pai e meus tios e eles contavam a história da família. Contavam muito a história do Brasil. Mas hoje em dia não se faz mais isso. As meninas iam para o campo jogar futebol junto com os meninos, tomavam banho de mar à noite, tomavam banho de cachoeira juntos. Não havia distinção entre meninos e meninas. Uma infância muito boa. Aos 7 anos, fui para o Centro estudar porque a escola lá era deficiente, muito pequena, com as idades todas misturadas. Fui morar com uma tia, irmã do meu pai. Dividia a infância entre o Centro e o Sítio Bom. Lá na roça vivíamos livres como passarinhos. A família é muito grande, são muitos tios e primos, então era uma comunidade só de parentes. Brincávamos muito, vivia na praia, curtia festinhas de família. Durante a época de escola, passava a semana no Centro e o final de semana em Sítio Bom. Fui aluna de geometria do Cícero. Na adolescência, passei a ficar mais no Centro. Depois cresci, casei e mudei de vez para a vila, onde me tornei professora, profissão que exerci a vida inteira. Hoje, além de dar aulas, temos um restaurante com meu filho, entre o Píer 51 e o Sítio Bom, chamado Prainha do Pinheiro. O comércio é dividido em dois espaços, um mais na encosta, mais recente, e outro mais antigo na beira da praia, herança da família, que foi reformado. Das memórias afetivas, sinto saudades do carnaval, além da festa da padroeira, esperada o ano todo, que enchia a cidade. Meus parentes de Sítio Bom vinham todos e dormiam na casa da minha tia, na vila, para aproveitar a festa inteira.

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